Resenhas
Postagem realizada em: 01/03/2010 às 18:54:00 - Última atualização em: 30/11/-0001 às 00:00:00
Autor: Amanda Pacini de Moura

RI II - 01/03 - Resenhas
SILVA, Armando Malheiro da. Mediações e mediadores em Ciência da Informação. PRISMA.COM, n. 9, dez. 2009. Disponível em: <http://prisma.cetac.up.pt/Prisma.Com_n9-Mediacao_e_mediadores_em_Ciencia_da_Informacao.pdf>. Acesso em: 01 mar. 2010.
O artigo do professor Armando Malheiro propõe uma análise da mediação aplicada à Ciência da Informação. Para isso, inicia com uma discussão do conceito de mediação, dispondo dos conceitos conforme apresentados por obras e autores de referência – ou, em muitos e notórios casos, a ausência dele. Destacam-se no texto as propostas desenvolvidas por Bernard Lamizet e Ahmed Silem (a mediação como a articulação entre o sujeito individual e o coletivo social através de representações) e por Jésus Martin-Barbero (a mediação como articulação entre a produção cultural e comunicacional dos grandes meios e a utilização desses produtos em contextos familiar, comunitário e nacional), e reflete-se sobre a necessidade de uma “apropriação crítica” dos conceitos, o que o autor define como “uma adequação do conceito aos problemas e aos casos específicos do nosso campo de estudo” (p. 9), em lugar de uma importação completa e irrestrita.
Em seguida, apresenta-se uma definição de Ciência da Informação como ciência interdisciplinar, envolvendo a integração não só (mas prioritariamente) das disciplinas tradicionais da informação – Documentação, Biblioteconomia, Arquivística –, mas também uma aproximação das Ciências da Comunicação e outras Ciências Sociais Aplicadas. Nessa perspectiva, apresentam-se dois paradigmas de mediação, custodial e pós-custodial.
A figura clássica para a mediação custodial, desenvolvida em meio às práticas das instituições tradicionais da memória (arquivo, biblioteca, museu), é tipificada através dos textos de Umberto Eco, onde o que prevalece é a guarda do patrimônio físico constituído pelos documentos e o acesso do usuário deve ser dificultado o mais possível, por todos os meios que couberem, tudo para o bem dos documentos – a mediação nesse caso é passiva, negativa até: quanto menos existir elo entre a informação documentada e o usuário, melhor.
No processo de desconstrução desse paradigma e reconstrução de um novo (processo esse ainda em curso), o autor destaca o pensamento de três autores, que delineiam uma mediação mais ativa: Paul Otlet, que em Traité de documentation defende que o papel principal do bibliotecário seria “o de dar a conhecer [ao leitor] as possibilidades do livro” (p. 18); Ortega y Gasset, que em 1935 já antecipou para o profissional da informação funções essenciais em tempos de information overload (seleção de informação, eliminação de ruído na busca, maximização da memória); e Ranganathan, com suas Cinco Leis da Biblioteconomia e a Classificação Colon.
No novo paradigma pós-custodial, as mediações são dispersas: os mediadores especializados ou institucionais, como o autor designa bibliotecários e arquivistas, permanecem, mas dividem seu espaço com profissionais oriundos da informática que participam da construção do espaço digital; ao mesmo tempo, também realizam mediação indivíduos sem vínculo profissional com a informação, mas que constroem recursos e serviços de informação na web. O autor finaliza o artigo com exemplos de novas ferramentas em desenvolvimento que evidenciam essa difusão dos papéis de produtor, mediador e usuário da informação.
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PASSARELLI, Brasilina. Do Mundaneum à WEB Semântica: discussão sobre a revolução nos conceitos de autor e autoridade das fontes de informação. DataGramaZero, n. 5, v. 9, out. 2008. Disponível em: <http://www.dgz.org.br/out08/Art_04.htm>. Acesso em: 01 mar. 2010.
O artigo da professora Brasilina Passarelli busca discutir as questões de autor, autoria e autoridade aplicadas no contexto dos recursos nativos digitais.
A autora apresenta um panorama sobre a web e as idéias que deram origem a ela: as propostas de centralização e difusão da informação de Paul Otlet, o conceito de hipertexto de Theodore Nelson. O modelo da WorldWideWeb de Tim Berners-Lee, que se propunha originalmente como uma ferramenta acadêmica para troca de informações entre pesquisadores, encontrou força para crescer na convergência de movimentos históricos iniciados nas décadas de 1960 e 70. Distinguem-se três gerações da web: a 1.0, comercial e de baixa interatividade; a 2.0 (atual), caracterizada por redes sociais e geração automática de conteúdo; e a semântica, cuja tecnologia ainda encontra-se em desenvolvimento; que seria caracterizada pelo reconhecimento de conteúdos por metadados.
No atual estágio (web 2.0) de geração automática de conteúdo, multiplicam-se as ferramentas para publicação e divulgação de informação, pulverizando as possibilidades de autoria (no caso das wikis, por exemplo, em que a construção colaborativa gera um produto final no qual não é possível identificar a parte que cabe a cada um dos autores) e narrativa (que com o hipertexto atinge múltiplas dimensões e possibilidades de leitura), e atingindo tanto canais informais de comunicação como as plataformas de comunicação científica.
A autora destaca a Wikipédia como ícone máximo dos questionamentos de autoria e autoridade da web: constituída através das ferramentas da web 2.0, colaborativa, aberta e de livre acesso, sua credibilidade é por vezes comparada a de enciclopédias tradicionais e, por outras, posta em xeque por ausência de autoridade. Apontam-se as críticas de Jaron Lanier à supervalorização dos coletivos digitais, características constituintes do universo wiki.
A autora finaliza o artigo apontando novas tendências que poderão interferir na discussão das questões de autoria online: o acesso e produção de conteúdo na web via celular, em qualquer lugar e hora; e licenças alternativas à oposição copyright/pirataria para uso de conteúdos na web.
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(muito) Breve conversa sobre os dois artigos
Embora os focos dos autores sejam diferentes (Passarelli reflete sobre autoria e autoridade, enquanto Malheiro discute mediação), as conclusões dos artigos se encontram: a pulverização dos papéis é um fato e uma característica, não só da web, mas da sociedade contemporânea em si; a Internet funcionando como um catalisador para isso. Assim, ambos os papéis, de autor e de mediador, sofrem de um processo de difusão (que, se não for o mesmo, apresenta origens e desdobramentos comuns), de forma que, curiosamente, os dois artigos apresentam considerações finais semelhantes: entre as muitas questões em aberto, cada um aponta duas ferramentas ou tendências que sugerem possibilidades futuras para as respostas buscadas.
SILVA, Armando Malheiro da. Mediações e mediadores em Ciência da Informação. PRISMA.COM, n. 9, dez. 2009. Disponível em: <http://prisma.cetac.up.pt/Prisma.Com_n9-Mediacao_e_mediadores_em_Ciencia_da_Informacao.pdf>. Acesso em: 01 mar. 2010.
O artigo do professor Armando Malheiro propõe uma análise da mediação aplicada à Ciência da Informação. Para isso, inicia com uma discussão do conceito de mediação, dispondo dos conceitos conforme apresentados por obras e autores de referência – ou, em muitos e notórios casos, a ausência dele. Destacam-se no texto as propostas desenvolvidas por Bernard Lamizet e Ahmed Silem (a mediação como a articulação entre o sujeito individual e o coletivo social através de representações) e por Jésus Martin-Barbero (a mediação como articulação entre a produção cultural e comunicacional dos grandes meios e a utilização desses produtos em contextos familiar, comunitário e nacional), e reflete-se sobre a necessidade de uma “apropriação crítica” dos conceitos, o que o autor define como “uma adequação do conceito aos problemas e aos casos específicos do nosso campo de estudo” (p. 9), em lugar de uma importação completa e irrestrita.
Em seguida, apresenta-se uma definição de Ciência da Informação como ciência interdisciplinar, envolvendo a integração não só (mas prioritariamente) das disciplinas tradicionais da informação – Documentação, Biblioteconomia, Arquivística –, mas também uma aproximação das Ciências da Comunicação e outras Ciências Sociais Aplicadas. Nessa perspectiva, apresentam-se dois paradigmas de mediação, custodial e pós-custodial.
A figura clássica para a mediação custodial, desenvolvida em meio às práticas das instituições tradicionais da memória (arquivo, biblioteca, museu), é tipificada através dos textos de Umberto Eco, onde o que prevalece é a guarda do patrimônio físico constituído pelos documentos e o acesso do usuário deve ser dificultado o mais possível, por todos os meios que couberem, tudo para o bem dos documentos – a mediação nesse caso é passiva, negativa até: quanto menos existir elo entre a informação documentada e o usuário, melhor.
No processo de desconstrução desse paradigma e reconstrução de um novo (processo esse ainda em curso), o autor destaca o pensamento de três autores, que delineiam uma mediação mais ativa: Paul Otlet, que em Traité de documentation defende que o papel principal do bibliotecário seria “o de dar a conhecer [ao leitor] as possibilidades do livro” (p. 18); Ortega y Gasset, que em 1935 já antecipou para o profissional da informação funções essenciais em tempos de information overload (seleção de informação, eliminação de ruído na busca, maximização da memória); e Ranganathan, com suas Cinco Leis da Biblioteconomia e a Classificação Colon.
No novo paradigma pós-custodial, as mediações são dispersas: os mediadores especializados ou institucionais, como o autor designa bibliotecários e arquivistas, permanecem, mas dividem seu espaço com profissionais oriundos da informática que participam da construção do espaço digital; ao mesmo tempo, também realizam mediação indivíduos sem vínculo profissional com a informação, mas que constroem recursos e serviços de informação na web. O autor finaliza o artigo com exemplos de novas ferramentas em desenvolvimento que evidenciam essa difusão dos papéis de produtor, mediador e usuário da informação.
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PASSARELLI, Brasilina. Do Mundaneum à WEB Semântica: discussão sobre a revolução nos conceitos de autor e autoridade das fontes de informação. DataGramaZero, n. 5, v. 9, out. 2008. Disponível em: <http://www.dgz.org.br/out08/Art_04.htm>. Acesso em: 01 mar. 2010.
O artigo da professora Brasilina Passarelli busca discutir as questões de autor, autoria e autoridade aplicadas no contexto dos recursos nativos digitais.
A autora apresenta um panorama sobre a web e as idéias que deram origem a ela: as propostas de centralização e difusão da informação de Paul Otlet, o conceito de hipertexto de Theodore Nelson. O modelo da WorldWideWeb de Tim Berners-Lee, que se propunha originalmente como uma ferramenta acadêmica para troca de informações entre pesquisadores, encontrou força para crescer na convergência de movimentos históricos iniciados nas décadas de 1960 e 70. Distinguem-se três gerações da web: a 1.0, comercial e de baixa interatividade; a 2.0 (atual), caracterizada por redes sociais e geração automática de conteúdo; e a semântica, cuja tecnologia ainda encontra-se em desenvolvimento; que seria caracterizada pelo reconhecimento de conteúdos por metadados.
No atual estágio (web 2.0) de geração automática de conteúdo, multiplicam-se as ferramentas para publicação e divulgação de informação, pulverizando as possibilidades de autoria (no caso das wikis, por exemplo, em que a construção colaborativa gera um produto final no qual não é possível identificar a parte que cabe a cada um dos autores) e narrativa (que com o hipertexto atinge múltiplas dimensões e possibilidades de leitura), e atingindo tanto canais informais de comunicação como as plataformas de comunicação científica.
A autora destaca a Wikipédia como ícone máximo dos questionamentos de autoria e autoridade da web: constituída através das ferramentas da web 2.0, colaborativa, aberta e de livre acesso, sua credibilidade é por vezes comparada a de enciclopédias tradicionais e, por outras, posta em xeque por ausência de autoridade. Apontam-se as críticas de Jaron Lanier à supervalorização dos coletivos digitais, características constituintes do universo wiki.
A autora finaliza o artigo apontando novas tendências que poderão interferir na discussão das questões de autoria online: o acesso e produção de conteúdo na web via celular, em qualquer lugar e hora; e licenças alternativas à oposição copyright/pirataria para uso de conteúdos na web.
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(muito) Breve conversa sobre os dois artigos
Embora os focos dos autores sejam diferentes (Passarelli reflete sobre autoria e autoridade, enquanto Malheiro discute mediação), as conclusões dos artigos se encontram: a pulverização dos papéis é um fato e uma característica, não só da web, mas da sociedade contemporânea em si; a Internet funcionando como um catalisador para isso. Assim, ambos os papéis, de autor e de mediador, sofrem de um processo de difusão (que, se não for o mesmo, apresenta origens e desdobramentos comuns), de forma que, curiosamente, os dois artigos apresentam considerações finais semelhantes: entre as muitas questões em aberto, cada um aponta duas ferramentas ou tendências que sugerem possibilidades futuras para as respostas buscadas.