Resenha II

SILVA, Armando Malheiro da. Mediações e mediadores em Ciência da Informação. PRISMA.COM, n. 9, dez. 2009. Disponível em: <http://prisma.cetac.up.pt/Prisma.Com_n9-Mediacao_e_mediadores_em_Ciencia_da_Informacao.pdf>. Acesso em: 01 mar. 2010.

Armando Malheiro da Silva divide seu texto em quatro tópicos: 1. A mediação: apropriação crítica de um conceito; 2. A Ciência da Informação e a transição de paradigmas; 3. A mediação custodial e 4. A mediação pós-custodial e informacional.
Na primeira parte o autor trata do conceito de mediação dando exemplos de obras e dicionários nos quais se explica o termo. Destaca-se a obra de Martín-Barbero. Para este a compreensão do processo de mediação é preciso dar centralidade à cultura. "Martín-Barbero rompeu radicalmente com a lógica dos estudos dos mass media, que centrava a compreensçai dos processos sociais de comunicação nos meios de comunicação industrial e nos "efeitos" que produziam nos públicos radiouvientes e telespectadores (...) O autor mudou a concepção do campo, inserindo a história, a cultura e a polítca no pensamento e na pesquisa em comunicação". Na abordagem de Martín-Barbero o mediador tem um papel fundamental e mediação é definida como a articulação "entre os processos de produção dos media e as suas rotinas de utilização no contexto familiar, comunitário e nacional".
Para Silva o posicionamento teórico, metodológico e crítico de Martín-Barbero é apelativo. Silva critica o fato de que na Biblioteconomia e na CI ocorra uma "importação simples e direta" do conceito de mediador projetado por Martín-Barbero e o bibliotecário-animador e defende que no nosso campo haja uma apropriação crítica do conceito que seria "uma adequação do conceito aos problemas e aos casos específicos do nosso campo de estudo".
No segundo tópico, "A Ciência da Informação e a transição de paradigmas", o autor relata que a concepção que defende de CI é transdisciplinar, "ou seja, constitui um estádio epistemológico evolutivo, resultante da interacção das disciplinas práticas supracitadas" (as disciplinas citadas foram a Documentação, a Biblioteconomia e a Arquivística). "O paradigma custodial e patrimonialista desenvolveu-se, sobretudo, a partir de uma formação localizada e centrada no locus profissional (Arquivos, Bibliotecas e Museus), com suas tarefas e exigências práticas que se sobrepunham a eventuais preocupações teóricas e reflexivas." Nas instituições culturais, criadas e assumidas pelo Estado-Nação apóis a revolução francesa, a missão dos profissionais dessas áreas era de "guardar os documentos antigos e raros" e dessa forma houve associações entre cultura e patrimônio, por exemplo. "Arquivos, Bibliotecas e Museus surgiram e evoluíram como lugares da memória". Coma a gênese e expansão da "Socidade da Informação" ou da "Sociedade em Rede" vemos surgir um novo paradigma: o paradigma pós-custodial. Com as TIC e a multiplicação de documentos não será possível ao profissional da comunicação custodiar ou guardar os documentos porque a informação "continuará sendo reproduzida e posta, sem limites, a "circular". Diante disso é preciso que haja "não mais abordagens práticas e instrumentais voltadas para o primado de descrever os documentos (...) mas um esforço de cientificidade que compreenda e explique os modos e os contextos de produção informacional, os imperativos e as formas de mediação plamadas nas estratágias de organização e representação de conteúdos". O autor sugere que o conceito de mediação deva integrar o dispositivo teórico-metodológico da CI.
A terceira parte é iniciada com a sugestão de aceitar "a premissa de que faz falta à CI o uso conceptual da mediação, entendida como instância articuladora entre diferentes partes sempre em determinadas situações e contextos". Silva convoca Umberto Eco para mostrar um exemplo caricatural de prática mediadora "negativa". (A ironia de Eco fez-me lembrar uma visita real – que até parecia irreal - a uma das bibliotecas da nossa Universidade, em que a preservação se sobrepõe fortemente ao acesso às obras. Concordo que é fundamental preservar, mas os usuários – no caso eu e dois amigos – nos sentimos invasores daquele espaço). Apesar de ainda existirem essas práticas mediadoras negativas, há muito tempo se fala de outra função do bibliotecário, não só como aquele que “guarda” os documentos. Um dos nomes importantes lembrados por Silva é Otlet que já indicava a “função do bibliotecário/documentalista (nova designação para um profissional renovado), a organização e a administração da biblioteca, sendo ele uma mistura de educador, de trabalhador intelectual e manual, de gestor e de organizador. O seu objectivo central deve ser o de dar a conhecer as possibilidades do livro (...)” No entanto, o bibliotecário como mediador “teria de se cingir a uma assistência intelectual, ajudando o leitor na busca da documentação pretendida e evitar, sempre, a deriva para uma assistência moral, que tendia a auxiliar moralmente o leitor e, em certa medida, a influenciá-lo.” A biblioteca deveria, para Paul Otlet, ser uma instituição imparcial e neutra, não servindo como instrumento de propaganda política, ideológica, filosófica e religiosa.

Na última parte do texto, “A Mediação pós-custodial e informacional”, o autor relata que com a internet (o ciberespaço) houve uma revolução e a instauração de uma reordenação para os serviços de informação e de mediação. Essa explosão informacional traz o problema do acesso à informação e da assimilação crítica dela. Os serviços de informação multiplicaram-se e complexificaram-se, mas a mediação não desapareceu nem tende a desaparecer, o que ocorre é o surgimento de um novo tipo de mediação. Silva cita Alex Primo que distinguiu dois grandes tipos de interação (mútua e reativa) e afirma que essa distinção ajuda-nos a compreender as nuances de uma mediação informacional, “a linearidade contida na mediação custodial está a ser substituída pela complexidade e pela variedade quando falamos de mediação pós-custodial.”

Na página 31 o autor faz um quadro em que sintetiza os tipos de mediação pós-custodial (institucional, distribuída e/ou partilhada; cumulativa).

 

 

Observação: Acredito que meu texto é mais um resumo que uma resenha. Para mim o texto é bastante complexo, apesar de muito interessante, e esta foi a forma que encontrei de tentar compreendê-lo melhor. Penso também que há pontos do texto que mereceriam discussão em sala como:

- p. 2 em que dá o exemplo de mediação em um museu;

- ideias de Martín-Barbero e o empréstimo que se faz de suas ideias na CI;

- formação do bibliotecário (um curso de especialização como dito na p. 11?);

- circulação e guarda dos documentos;

- biblioteca digital em especial no que se refere ao trecho da p. 27 de Luis Fernando Sayão;

- o trecho da p.26 que diz “os manuais de utilizador consagram esta postura mediadora que é, também fortemente dirigista e até manipuladora”;

- web 2.0 e cérebro 2.0


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