RESENHA II SILVA, Armando Malheiro da. Mediações e mediadores em Ciência da Informação. PRISMA.COM, n. 9, dez. 2009. Disponível em: . Acesso em: 01 mar. 2010. A Mediação: apropriação crítica de um conceito Na primeira parte do texto, o autor discute sobre o conceito de mediação, citando a definição deste termo dada por diversas fontes e verificando seus diferentes enfoques quanto à sua formação dentro da área de comunicação. Entre as fontes pesquisadas, o "Dictionnaire encyclopédique des sciences de l'information et de la communication" apresenta três tipos de mediação: "A língua [...] na medida em que os seus praticantes fazem um uso próprio da norma colectiva e da cultura em que emerge o dispositivo linguístico: a língua é uma mediação que permite nomear e representar, mediante formas comuns, os objectos captados por percepções singulares." "A comunicação [que] desempenha uma função de mediação no espaço social ao organizar e ao estruturar as expressões de pertença das quais os actores se reclamam no espaço social." "As mediações institucionais e as estratégias de comunicação, entendidas como as formas de mediação e de comunicação, efectivamente praticadas pelos sujeitos comunicantes, na sua dimensão institucional de actores sociais presos a lógicas institucionais." Na concepção de Martin-Barbero, teórico da comunicação social e cultural, "não existe comunicação sem cultura, nem cultura sem comunicação" - premissa-chave que sustenta uma visão integral e, diríamos até, sistémica do processo comunicacional." "Para Martín-Barbero há uma relação entre cultura local e cultura mediática, espaço de negociação das identidades segundo os contextos culturais." "Não é, aliás, difícil encontrar semelhanças entre o mediador projectado por Martín-Barbero e o bibliotecário-animador cultural com fortes preocupações sociais, perfeitamente adequado às cidades e aos bairros pobres e degradados dos países de profundas e gritantes assimetrias, como os de vários continentes e latitudes do planeta, América do Sul obrigatoriamente incluída" E no campo da Ciência da Informação, "o conceito mediação prima pela ausência, o que permite inferir que até hoje não foi sujeito a um exercício de apropriação e ajustamento pelos especialistas em Ciência da Informação (CI) e, quando usado por estes, foi como cópia ou tradução directa de certas fontes, sendo Jesús Martín-Barbero uma delas." A Ciência da Informação e a transição de paradigmas A Ciência da Informação americana segue um caminho paralelo à Documentação, à Biblioteconomia e à Arquivística. "A concepção de CI, que vimos tecendo e consolidando, é diversa da que continua a ser propalada, por exemplo, no Brasil, e que tem a ver com uma disciplina surgida nos EUA, em plena "sociedade pós-industrial", e centrada no processamento automatizado da informação científica e técnica." Já a Ciência da Informação pela proposta brasileira, segue um caminho interdisciplinar "A nossa concepção, por seu turno, constrói-se como resposta, necessária e possível, a um conjunto de questões fundamentais que permanecem em aberto e alimentam um inesgotável debate: inspirada na citadíssima, ainda que pouco seguida, definição do artigo de Harold Borko (1968) e na proposta unitária e interdisciplinar de Yves Le Coadic (1994; 1997), a nossa concepção de CI é transdisciplinar, ou seja, constitui um estádio epistemológico evolutivo, resultante da interacção e integração das disciplinas práticas supracitadas." "Convoca um Método típico da investigação social, qualitativa e anti-positivista - trata-se do Método Quadripolar" "E precisa, ainda, de uma metateoria explicativa, baseada em dois paradigmas essenciais: o custodial [..] e o pós-custodial." Este último "tenderá a formatar o modo de ver, de pensar e de agir de gerações de cientistas e profissionais da informação, ao longo do séc. XXI" "O paradigma pós-custodial, informacional e científico implica, também, uma mudança de postura epistemológica fundamental: da ênfase nas abordagens instrumentais, práticas, normativas e prevalecentemente descritivas dos documentos-artefactos tem de se passar para a compreensão e a explicação do fenómeno info-comunicacional patente num conjunto sequencial de etapas/momentos intrínsecos à capacidade simbólico-relacional dos seres humanos - origem, colecta, organização, armazenamento, recuperação, interpretação, transmissão, transformação e utilização da informação."

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