CBD0201 - Recursos Informacionais II - Matutino

Comentários a leituras propostas em aula de 1º de março de 2010


SILVA, Armando Malheiro da. Mediações e mediadores em Ciência da Informação. Prima. Com: revista de Ciências da Informação e da Comunicação do CETAC, n. 9, dez. 2009. Disponível em: <http://prisma.cetac.up.pt/premio_cetaccontecsi_edicao_n9_dezembro_de_2009/da_mediacao_custodial_a_mediac.html>. Acesso em: 07 março 2010.

 

O artigo começa com a exposição do que o autor chama de “uma ‘importação’ imediata e redutora” (SILVA, 2010, p. 1) do termo mediação sendo necessária sua apropriação pelo campo de estudos da Ciência da Informação (CI) por meio de estudos e reflexões que revistam o termo da conceituação que seja específica à CI, começa então a análise para determinar que tipo de conceito o termo pode assumir, analisando as definições apresentadas em obras de referência com o Dictionnaire d’initiation à l’info-com de Laurence Carroy e Jacques Gonnet e o Dictionnaire encyclopédique des sciences de l’information et de la communication de Bernard Lamizet e Ahmed Silem observando-se que o entendimento prevalecente do termo é ligado à ciência jurídica; no campo da comunicação Lamizet e Silem apresentam o conceito relacionado à sociabilidade que se realiza ou se manifesta em três instâncias: a linguística, a espacial e a institucional. A mediação entendida como sociabilidade é plasmada nos fenômenos de ordem cultural-institucional que fundam e organizam um corpo social: a língua que permite a comunicação coletiva por meio de símbolos convencionados coletivamente. A sociabilidade efetiva-se  da interação entre seres que se comunicam por meio de símbolos carregados se sentidos que se estabelecem no processo de vivência em sociedade que se realiza num espaço, assim a comunicação no espaço determina por meio da interação entre os indivíduos que relação desempenham neste espaço e de que forma atribuem sentido a este espaço e por fim a comunicação ou mediação através das organizações ou instituições em que a sociabilidade reveste-se de uma relação de interesse de ordem institucional.

Em seguida a esta exposição Silva apresenta o conceito de mediação proposto por Martín Barbero:

...Martin-Barbero, podemos dizer que para ele ‘não existe comunicação sem cultura, nem cultura sem comunicação’ – premissa-chave que sustenta uma visão integral e, diríamos até, sistemática do processo comunicacional. Este não pode ser fragmentado, todos os elementos constituintes devem ser estudados juntos: emissor, mensagem, canal, receptor... A interdependência entre as partes é um aspecto central. (2010, p. 7)

A partir dessas explanações Silva critica a prática por ele denominada de importação de conceitos por um campo de estudos – no caso a CI – de forma simples e direta sem uma apropriação e ajustamento do conceito de modo que ele reflita epistemologicamente o campo de estudos da área da CI.

... o conceito de mediação [...] até hoje não foi sujeito a um exercício de apropriação e ajustamento pelos especialistas em Ciência da Informação (CI) [...] Parece-nos, no entanto, urgente que se assuma uma apropriação crítica [...] E, por apropriação crítica queremos significar uma adequação  do conceito aos problemas e aos casos específicos do nosso campo de estudo... (SILVA, 2010, p. 9)

Tendo em vista a construção de um campo epistemológico específico à CI, Silva contrapõe a concepção de CI “surgida nos EUA, em plena ‘sociedade pós-industrial’ e centrada no processamento automatizado da informação científica e técnica” (2010, p. 10) a uma concepção de estudos transdiciplinar, ocorrendo primeiramente no campo das Ciências da Informação e Comunicação para alcançar o abrangente campo das Ciências Sociais Aplicadas, sob esta perspectiva a CI reflete as relações entre a sociedade e a produção e circulação de bens informacionais bem como seu impacto social.

São as reflexões e contribuições da CI ao campo das Ciências Sociais Aplicadas que torna necessária a formação de conceitos que dê conta dos fenômenos objetos de análise da CI. Ao abordar o conceito operatório de mediação sob a perspectiva do fenômeno comunicacional, Silva faz uma análise histórica em que procura demonstrar como ocorreu a evolução do que ele chama de paradigma custodial caracterizado pela “ênfase nas abordagens instrumentais, práticas, normativas e prevalecentemente descritivas dos documentos-artefatos [...] uma concepção de mediação passiva e até negativa, porque contrária ao utilizador, uma vez que a prioridade estava na guarda do patrimônio cultural incorporado e acumulado, não no acesso ou na difusão plena” (2010, p.13 e 17) que paulatinamente dá lugar por força de mudanças históricas como a suscitada por necessidades intervencionistas do Estado que impunha a necessidade de controle sobre o fluxo de informação o que deu ensejo ao desenvolvimento de práticas documentais que visassem mais ao controle de conteúdo que à organização física, embora esta estivesse ligada ao primeiro. Este fator em junção com a emergência do que Silva chama de Estado Culturalista – indutor e promotor de práticas culturais fazendo reforçar a noção de acesso – permite que se imponha um novo paradigma: o pós-custodial, informacional e científico que se intensifica pelo desenvolvimento das TCIs (Tecnologias da Comunicação e da Informação) que possibilitam a reprodução de conteúdos em variados meios suportes havendo a partir daí uma prevalência de preocupação não com a estabilidade e manutenção dos meios suportes e sim com a circulação de conteúdos e sua apropriação simbólica. O paradigma pós-custodial impõe-se também pela reflexão de teóricos entre os quais citam-se Otlet, Ortega y Gasset e Rangathan, as contribuições destes e de outros teóricos bem como a imposição de novos situações sociais surgidas por forças históricas acima apontadas fazem surgir novas relações com a informação, a questão da partilha e interação da e/ou com a informação é subsequente ao processo de produção da informação é nesta medida que o conceito de mediação entendido “como instancia articuladora entre diferentes partes sempre em determinadas situações e contextos” se faz necessário “para a compreensão e a explicação do fenômeno info-comunicacional”. (SILVA, 2010, p. 13 e 14)

As TICs intensificam o fenômeno pós-custodial, no entanto, este não deve ser entendido como a mera digitalização de recursos informacionais, a inserção em rede de conteúdos, pois que neste aspecto não haveria grandes diferenças de mediação entre uma biblioteca fisicamente constituída e uma digital pois esta estrutura-se nos mesmos métodos ou procedimentos que condicionam a relação usuário-informação no paradigma custodial, ou seja, a mera mudança de meio de acesso estruturar-se-ia por meio dos procedimentos de medição já consagrados, cristalizados em manuais de operacionalização de sistemas de informação baseados em regras de catalogação, indexação, sumários descritivos etc; característicos da medição custodial.

Em tempo de transição vertiginosa e não menos paradoxal, em que se acentuam as alterações e se mantêm certas permanências e atavismos, vai ficando claro  que a linearidade contida na mediação custodial está a ser substituída pela complexidade e pela variedade quando falamos de mediação pós-custodial. Nesta categoria temos de incluir diferentes tipos que configuram uma multi-mediação, ou seja, a prevalência, em crescendo, de uma pluralidade de articulações e de interações centradas na coleta/produção, na organização e na promoção do acesso da informação. (SILVA, 2010, p. 26)

Observa-se uma pluralidade de mediações em que o universo informático tira a primazia de bibliotecários obrigando-os a contracenar com programadores ou designers e utilizadores das TICs cujas características de interatividade dão um papel mais ativo aos usuários permitindo-lhes atuar não só como receptores mas também como produtores ativos de informação.


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