Olá!

    Saudações tricolores!

   Nessa delicia de feriado chuvoso eis que esse pseudo-blogueiro se lembra do ótimo seminário apresentado no dia 4 de junho pelos donos de blogs mais sugestivos do Nexus.

   A temática era sobre as plataformas abertas. Antes de se partir para essas bases, foi apresentada uma interessante discussão acerca do contexto atual, com o grande embate que envolve o acesso à informação e os diversos interesses que afloram nessas discussões. Algumas grandes universidades norte-americanas, por exemplo, questionam os altos preços cobrados pelas tradicionais bases de dados e mesmo as relações em que se dá a disponibilização desses dados. As universidades questionam, entre outras coisas, o por quê de pagar para visualizar uma produção que, muitas vezes, é produzida por seus próprios pesquisadores, e que são pagos por essas instituições, muitas delas geridas pelo poder público e que custeiam e oferecem condições para que as pesquisas sejam desenvolvidas. Esse caso poderia ser confundido como o caso da economia de países como o Brasil, que produzem matérias-primas, exportam-nas para outros países por preço x e tem de comprá-los, processados e manufaturados por 2x ou mais. Mas acontece que essas universidades já forneceram o suporte para que as pesquisas fossem realizadas e coube às editoras privadas publicar esses trabalhos já prontos. Se a universidade é de cunho público, por que que a sua produção acadêmica tem de ser restrita aos que podem pagar pelo acesso às bases de dados? Foi citado o caso de um livro essencial para os alunos de primeiro ano do curso de Letras da USP, escrito por professores da USP – para os desavisados de plantão, esta é uma universidade pública, mantida com dinheiro público, embora pareça feudo de alguns sátrapas intocáveis – mas que é publicado por uma editora privada. Sendo uma produção de professores da USP, desenvolvido justamente para o desenvolvimento de cursos que eles lecionam ou lecionaram, por que este livro é vendido aos alunos e não pode ser disponibilizado gratuitamente? Como diria a brava Dona Milu, “Mistério...”. 

    Outro ponto interessante desse processo é que ao ser interrompida a assinatura de alguma base de dados, mesmo que o pagamento ocorresse por anos a fio, todo o conteúdo destas fica inacessível à universidade que desfez a assinatura. É como (hoje estou cheio dessas analogias lulescas) pagar por vinte anos uma casa e, por questões várias, não conseguir pagar a prestação do vigésimo primeiro ano e por isso perder o imóvel. E como esses serviços custam muito, às vezes passando a casa dos milhões, algumas universidades já estão tratando de estabelecer suas próprias publicações para divulgar a produção dos seus docentes e pesquisadores, com o intuito de não ter de pagar rios de dinheiro para acessar o produto (a informação, a pesquisa) que ela mesmo produziu. Há certa reticência de alguns pesquisadores pois o que promove o impacto de uma pesquisa é publicá-la num dos periódicos já consagrados e que são acessíveis pelas bases de dados pagas. Mas penso que esse processo deveria ser encampado pelos pesquisadores pois trata-se de um trabalho de médio e longo prazo. Talvez, num primeiro momento, exista alguma dificuldade para que as pesquisas sejam devidamente divulgadas por não terem todo o aparato e a grife dos grandes periódicos, mas essa dificuldade se dilui com o tempo e com um trabalho sério de promover excelência em suas pesquisas, tornando-se referencial nas áreas em que esses periódicos universitários atuarem.

   Aqui no Brasil há a experiência do SCIELO que apresenta conteúdo aberto e só trabalha com periódicos que sejam de acesso aberto, bem como alguns repositórios voltados a áreas específicas, como o BRAPCI voltado à Ciência da Informação e que configura-se num importante meio de se ter acesso às publicações brasileiras nessa área do conhecimento numa única plataforma.

    O exemplo mais significativo, pelo menos o mais popular e controverso, de plataformas abertas é a Wikipedia, uma enciclopédia livre que partiu da simples ideia de se promover uma enciclopédia construída coletivamente, onde as pessoas contribuíam com seus conhecimentos, e que fosse acessível a todos – pelo menos quem tem acesso à internet. A Wikipedia foi e é muito rechaçada porque, numa visão mais superficial, parece uma casa da mãe Joana, onde todo mundo mete o bedelho e sabe-se lá que tipo de informação é colocada à disposição, provocando uma séria dúvida quanto à confiabilidade dessas informações. Mas ao longo desses anos, os organizadores da Wikipedia tem aperfeiçoado os mecanismos de evitar intervenções danosas aos conteúdos apresentados e, mesmo, barrar “contribuições” que mais parecem sabotagem, apagando-as e recolocando o conteúdo anterior. Pode parecer uma contradição ao “espírito de liberdade” que ela prega, mas é um meio de se evitar o seu uso para fins que não sejam o de compartilhamento do conhecimento. É aquela velha máxima de que liberdade não pode ser confundida com libertinagem. O que desconstrói um pouco da imagem de que a Wikipedia é uma bagunça e não merece ser levada em consideração. Há, também, interessante trabalho de aproximação com universidades no sentido de promover maior robustez e confiabilidade nos verbetes que dizem respeito a determinadas áreas do conhecimento, onde os pesquisadores dessas universidades atuam. 

   Considero a experiência da Wikipedia interessante à medida que “convida” seus usuários a participarem da construção de seu conteúdo, mostrando que o conhecimento é algo dinâmico e que se faz coletiva e continuamente, descaracterizando a velha ideia cristalizada do conhecimento estático que alguns poucos iluminados detém e que a grande maioria deve apreender sem contestar. Pelo menos é esse tipo arcaico de conhecimento que ainda é muito veiculado nas escolas, pelo menos as públicas que é onde eu conheço mais.

   Por fim, num momento de descontração, foi apresentada a Desciclopedia, que é uma enciclopédia ao contrário ou uma enciclopédia de comediantes, sei lá. A única certeza que se terá ao acessá-la é a de rir com as doideiras que são escritas e com algumas verdades que as informações oficiais não podem abarcar. Se quiserem um exemplo, acessem esse instrutivo verbete sobre o nosso querido Jupiterweb que teremos o prazer de acessar daqui há algumas semanas ou dias (estou meio por fora) para fazer nossas matrículas. O link: http://desciclopedia.ws/wiki/JupiterWeb

   A frase da aula? Minha memória de velho gagá não me guardou nada, mas desse lance de liberdade da informação e acesso a todos, lembro-me do belo samba (nossa, que heresia! Falar de samba aos jovens que só ouvem rock e outros ritmos “modernos”...) da outrora gloriosa Imperatriz Leopoldinense:

                            Liberdade! Liberdade!

                            Abra as asas sobre nós

                            E que a voz da igualdade

                            Seja sempre a nossa voz

   Sou salgueirense, mas tenho que admitir que é um belo samba. E que a igualdade e a liberdade realmente campeiem nesse vasto mundo da informação.

   Abraço e bom fim de semana!


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