RESENHA: PASSARELLI, B.; RIBEIRO, F.; OLIVEIRA, L.; MEALHA, O.? Identidade conceitual e cruzamentos disciplinares . In: e-Infocomunicação: Estratégias e Aplicações. São Paulo : Senac, 2014, p. 79-121


RESENHA: PASSARELLI, B.; RIBEIRO, F.; OLIVEIRA, L.; MEALHA, O.? Identidade conceitual e cruzamentos disciplinares . In: e-Infocomunicação: Estratégias e Aplicações. São Paulo : Senac, 2014, p. 79-121

                O texto pretende  discutir e definir os conceitos que formam a base do campo disciplinar da infocomunicação, de um ponto de vista bastante específico: o da e-infocomunicação, inserindo os dois conceitos básicos do campo  - informação e comunicação - dentro da ambiência digital.

                Dentro deste contexto, ocorre o processo simbiótico chamado pelo autores de mediação tecnológica, onde a troca de mensagens é mediada pela tecnologia, que passa a constituir-se "não como um simples canal transmissor de mensagens (informação), mas sim como um locus, um ambiente ou, dito de outra forma, como um sistema onde a informação e a comunicação têm seu lugar privilegiado" (pág. 79-80).

                Como não poderia deixar  de ser, o primeiros conceito discutido é informação. Ao deixar claro que não há intenção de fazer uma revisão da literatura sobre o conceito, os autores discorrem sobre as definições propostas por Luciano Floridi e Mathieu Triclot para apontar o caráter abrangente e polissêmico do conceito até chegar ao que seria uma espécie de depuração do termo com Claude Shannon, que segundo James Gleick, teria marcado o momento que nasceu o tratamento, armazenamento e recuperação da informação como a ponte que faltava entre a informação e  a incerteza.

                Os autores, por sua vez, entendem informação como "um conjunto estruturado de representações mentais e emocionais codificadas (signos e símbolos" e modeladas com/pela interação social, passíveis de serem registradas num qualquer suporte material (papel, filme, banda magnética, disco compacto etc.) e, portanto, comunicadas de formas assíncrona e multidirecionada", tal como foi estabelecido por Armando Malheiro da Silva em 2006.

                Ao escolher esta abordagem, os autores pretendem distinguir o conceito de informação dos conceitos de conhecimento, ­de comunicação e de documentação, discutidos a seguir.  

                O conceito de conhecimento muitas vezes  é abordado de forma similar ao conceito de informação. Partindo do conceito de conhecimento explicitado acima , os autores deixam claro que, em sua acepção, "uma coisa é o conhecimento entendido como os processos (cerebrais) da cognição, outra coisa é o produto mental que deriva desses processos cognitivos e que consiste em dar forma (informar), em representar através de código(s) esse produto que chamamos de 'informação'" (pág. 88).

                Considerado indissociável do conceito de informação, memória é entendida aqui como o conjunto de representações mentais que são codificadas  e, eventualmente, registradas em diferentes suportes. Ao conceito de memória estão associadas outras ideias, como registro,  armazenamento e conservação, sendo que todas estas acepções estão associadas ao conceito de informação.

                O conceitos de contexto e meio ambiente, embora analisados  e definidos separadamente, podem ser entendidos de forma conjunta, uma vez que dizem respeito ao elementos materiais que constituem o cenário da ação informacional, sejam eles tecnológicos ou simbólicos, ou ainda à realidade sócio-política  que envolve o ato informacional.

                Sempre partindo da premissa estabelecida para o conceito de informação, documento é entendido em uma primeira acepção, como o resultado material, o registro de um produto mental. Sendo assim, é o veículo utilizado para a comunicação.  Embora a materialidade do documento tenha sido legitimada pela História e posteriormente, pela Biblioteconomia e pela Arquivística, notadamente a partir dos trabalhos de Paul Otlet e sua definição do termo "documentação", as novas tecnologias tem colocado em xeque a questão da materialidade.  Com a disseminação dos documentos nato digitais e o que convencionou-se chamar de convergência digital, o documento não é mais "apenas um registro da informação, mas também simultaneamente um transmissor da informação. Assim, não deixando de ser o que era (informação registrada em um suporte), o documento adquire novas funcionalidades que, afinal, não fazem mais do que potenciar a sua função comunicacional" (pág. 95).

                Se os conceitos de interação e interatividade já eram fundamentais para a comunicação interpessoal, ao transplantá-los para o ambiente digital, eles se tornam fundamentais, e podem ser de diferentes tipos, dependendo dos recursos e objetivos das plataformas digitais. Para tanto, o desenvolvimento  de uma interface (considerada a fronteira entre a plataforma digital e o ser humano) deverá ocorrer de forma a adequar-se o tipo de interação escolhido.

                Por se tratar de um dos objetos principais de estudo do Núcleo  das Novas Tecnologias de Comunicação Aplicadas à Educação "Escola do Futuro" - USP, do qual os autores fazem parte, o  conceito de literacias digitais emergentes é apresentado a partir, principalmente, do contexto brasileiro. A chamada "primeira onda" da sociedade conectada em rede teria acontecido no Brasil entre 1995 e 2005, quando as atenções estavam voltadas, principalmente, para a definição de políticas de acesso e infraestrutura para a inclusão digital.

                Passado este primeiro momento, tornou-se necessário conhecer em que medida os indivíduos estão capacitados para comunicar-se dentro do território tecnológico. Para tanto, surgiu o termo "literacia digital", creditado ao pesquisador Paul Gilster. Esta seria a habilidade do indivíduo em não só utilizar, mas também entender informações em múltiplos formatos e provenientes de diversas fontes recebidas via computador. Com a convergência das mídias tradicionais para a internet , o termo passou a ser usado no plural, passando a ser entendido também como a capacidade intelectual de análise, avaliação e crítica das informações recebidas por este meio.

                Ao tratar o conceito de comunicação e sua relação com o conceito de informação dentro do contexto da infocomunicação, os autores delimitam que "enquanto a informação é da ordem do conteúdo, a comunicação é da ordem da relação" (pág. 102). Uma vez que o desafio da comunicação reside principalmente na interlocução que é estabelecida, evidencia-se a complexidade das questões e os desafios trazidos pelas tecnologias em rede e pela portabilidade, por sua efemeridade e dinâmica.

                Logo após a discussão sobre o conceito de comunicação, os autores introduzem, e não por acaso, o conceito de mediação. Embora amplamente utilizado nos últimos anos na área das comunicações, o termo carece, segundo as autores, de um "exercício de apropriação e ajustamento pelos cientistas em ciência da informação" (pág. 111). 

                Por trata-se de um campo científico ainda em construção, onde o hibridismo dos conceitos se faz amplamente presente, os autores propõem a apresentação de uma série de conceitos que compõem o campo disciplinar. Ao encadear estes conceitos, deixam claro que o a forma como são apresentados no artigo não é a única possível, tratando-se unicamente da maneira como eles se adequam à realidade infocomunicacional e à visão dos próprios autores sobre o tema.

                O texto apresenta os conceitos de forma clara e objetiva, baseado, por um lado, em bibliografia consagrada, apresentando, ao mesmo tempo, referências recentes sobre os temas abordados. Ao estabelecer o entendimento dos autores sobre o conceito de informação, estabeleceu os parâmetros  que norteariam a apresentação dos termos  subsequentes, o que facilitou o entendimento dos conceitos.


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