Resenha do texto “Mediação da informação no hibridismo contemporâneo: um breve estado da arte” de Brasilina Passarelli


            Atualmente vivemos num tempo de hiperconectividade ou conectividade contínua que fez com que se reconfigurasse as relações sociais e a as suas estruturas de poder, da economia e da educação. Essa nova ordem social se constitui e se organiza nas interfaces como superfícies de mediação das relações sociais no fluxo crescente da comunicação dos atores em rede.

            Para atender essa nova realidade imposta pela hiperconectividade, emergem um novo conjunto de habilidades e/ou competências, as “literacias digitais” e/ou media literacy.

            A literacia é um termo indissociável da mediação. Essa afirmação pode ser melhor compreendida através de um pequeno estudo da arte que leva em consideração como o conceito de mediação foi evoluindo e ganhando uma nova forma a partir dos anos 70 do século passado até o contemporâneo hiperconectado, o qual estamos vivenciando.

            Leah A. Lievrouw, professora do Department of Information Studies, University of California, sugere que o conceito de mediação foi utilizado como uma ponte entre duas tradições desde os primeiros tempos dos estudos das mídias digitais, também conhecidas como new media, nas décadas de 1970 e 1980, tendo sido mais elaborado nos anos 90.

            Inicialmente, as mídias digitais eram vistas apenas como uma extensão das mídias tradicionais, ignorando o seu caráter participatório e interacional.

            A partir dos anos 90, as mídias digitais passaram a serem vistas como meios de promover uma cultura participatória e permitir uma comunicação em rede que vai além da lógica emissor/receptor. Nesse novo panorama os atores em rede passam a ser não apenas consumidores, mas também produtores de informações.

            Luciano Floridi, professor de Filosofia e Ética da Informação da UNESCO Chair in Information and Computer Ethics na University of Hertfordshire, fellow do St Cross College, Oxford e Diretor de Pesquisa do Oxford Internet Institute - Understanding Life Online, preconiza que vivemos a quarta revolução, sendo esta representada por Alan Touring. A partir desta revolução, os seres humanos passam a se entender como seres informacionais interconectados.

            Para Floridi, na sociedade contemporânea conectada em que a dependência da informação é muito grande, a comunicação não é importante por ser ciência, mas sim por ser interface. Ou seja, a comunicação não deve ser importante por si só, mas importante para todas as outras ciências como interface.

            Floridi cunha o conceito “onlife” para ressignificar as nossas atividades diárias e põe em questão se as tecnologias vão nos empoderar ou nos constranger. Ao mesmo tempo que estas tecnologias ajudam, elas fazem com que os seres humanos se tornem dependentes delas, por muitas vezes fazendo com que o fator humano desapareça.

            No manifesto Onlife, um grupo de pesquisadores liderados por Floridi discutiu os principais aspectos da condição humana no contemporâneo hiperconectado e constatou quatro transformações macros:

  • a não diferenciação de realidade on-line/of-line;
  • a não diferenciação entre humanos, máquinas e natureza;
  • a abundância de informação em lugar da escassez de informação anterior;
  • a transição de artefatos estanques, propriedade e relações binárias para a primazia de interações, processos e redes.

            As questões levantadas no manifesto Onlife chegaram a Europa onde foram discutidos aspectos que dão um novo significado ao termo literacia. A literacia não deve mais ser vista como um processo de alfabetização apenas, mas como um processo em que novas competências são adquiridas por diferentes tipos de pessoas em diferentes contextos.

            Mais importante do que entender a informação é entender o contexto político e social imerso na comunicação. Só assim será possível ensinar e educar a população a usar a informação e fazer desta uma importante arma para combater o analfabetismo e a pobreza.

            Para tanto, conclui-se que não basta educar a população para a mídia, é necessário propor campanhas sustentáveis que possam ser replicadas ao redor do mundo num continuum que emule a complexidade contemporânea da hiperconectividade dos atores em rede.


© 2017 - 2025 by NeoCyber.