A construção do conhecimento e a contribuição da imprensa de Gutemberg - atividade avaliativa Camila Matutino - Tipos de Fontes de Informação
Postagem realizada em: 25/08/2020 às 15:39:03 - Última atualização em: 25/08/2020 às 16:00:43
Autor: Camila Fernanda Ribeiro Rocha
A história do conhecimento teve diversos panoramas a depender da época considerada. O homem sempre buscou uma forma de poder registrar os mais variados tipos de saberes. Sem um registro histórico há um esvaziamento e uma perda de valor da sapiência adquirida até então. Não há como passar adiante o que se descobriu e se pesquisou sem uma forma de documentação.
Até a Idade Média estes registros estavam vinculados aos manuscritos, aos pergaminhos e à cultura oral basicamente. Pouco se saia desta padronização. O saber estava vinculado fortemente com a religiosidade e executando-se raros casos estavam atrelados à valores que não eram comprovados cientificamente. Somente no século XIX houve o que pode denominar de quebra deste processo e a ciência tomou o protagonismo em relação aos preceitos da religião.
Não foi um desvinculo fácil. Foram séculos de um ciclo onde predominava um sistema de transmissão do conhecimento que se condicionava à uma parcela mínima da sociedade da época. O alto clero e os nobres sabiam o letramento. As classes menos privilegiadas viviam majoritamente (claro que sempre há exceções à regra) dos saberes que lhes eram transmitidos oralmente pelos que sabiam compreender e ler o que estava documentado.
O currículo também pouco variou nestes séculos. Ele teve algumas mudanças que variavam de localidade para localidade porém nada que fosse extremamente significativo. Alguns acrescentavam alguns conceitos que outros não possuíam porém seu sistema de base era o mesmo. Esta base tinha duas etapas principais: a inicial de um ensino básico onde eram ensinadas sete disciplinas (divididas em dois grupos: o primeiro grupo era composto pelo Trivium que eram as disciplinas vinculadas à linguagem (retórica, gramática e lógica) e o segundo grupo era composto pelo Quatrivium que eram as disciplinas atreladas aos números (geometria, música, aritmética e astronomia)); e uma etapa secundária onde se aprimoravam esses estudos primários denominada de ensino superior onde se podia estudar direito, medicina ou teologia (esta última era então considerada a rainha das ciências).
Outras disciplinas foram consideradas no processo é claro porém não houve uma distância muito grande deste quadro citado acima. Houve a criação de novos cursos superiores porém não existiu até a modernidade um desvinculo destes estudos da religião de forma efetiva. Por outro lado isso não significa que durante os séculos XIV e XIX não houvesse um questionamento deste esquema. Conhecimentos científicos eram ensinados e produzidos, mas era difícil acrescentar isto ao que já era considerado como currículo.
Mesmo dentro deste panorama, percebe-se que houve a quebra gradual deste sistema. E muitos fatores foram responsáveis para que aos poucos a sociedade começasse a mudar. Foram transformações graduais, mas que sem elas não seria possível ter o conhecimento científico que existe atualmente.
Dentre estes fatores, o advento da imprensa de Gutemberg sem dúvidas merece destaque. Este conseguiu quebrar padrões estabelecidos anteriormente como fixos através da propagação das mais variadas bibliografias. Ao aprimorar a prensa utilizada para outras funções, este conseguiu fazer uma técnica onde se tornou possível copiar um determinado pergaminho/manuscrito sem ter o trabalho de reproduzi-lo à mão.
Em 1442 ele imprimiu uma folha de papel onde estavam escritas 12 linhas. Com o passar do tempo sua habilidade evoluiu; oito anos depois, em 1450, ele já fez a impressão de uma Bíblia em 42 páginas divididas em dois blocos. A partir daí novas bibliografias começaram a ser impressas.
Era uma verdadeira revolução. Os originais podiam ser copiados e levados à outras localidades sem precisar do desgaste da documentação base. Isto trouxe um aprimoramento dos conteúdos já ministrados e uma facilitação da aprendizagem. Em pouco tempo, a comercialização destes impressos tomou um rumo tão grande que praticamente em toda a Europa existiam centros de produção de material bibliográfico de todos os mais variados conhecimentos.
Houve por assim dizer uma “popularização” dos saberes. Isso não significou que o acesso à sapiência foi algo que se tornou para todos, mas sim que as mais variadas bibliografias poderiam ser transportados e copiadas em um curto espaço de tempo e sem muita burocracia como era anteriormente. O controle do que se produzia era bem menor, pois o conhecimento saiu das paredes dos mosteiros e castelos e chegou às ruas para serem vendidos. Os primeiros catálogos foram feitos e já se podia encomendar a cópia de dada obra específica por exemplo.
Foi o início de uma grande quebra de paradigmas e da divulgação de ciência de forma mais livre. Isso não quer dizer que tudo se modificou da noite pro dia; porém era um pontapé de grande importância para que o homem começasse a questionar seu esquema de padrões que tinham a religião como alicerce.
Empregos foram criados e também publicações começaram a ser feitas e comercializadas. Todos queriam alguma novidade e estas eram trazidas. A ciência começou a criar com o tempo uma nova base onde as comprovações não estavam mais restritas à dogmas e sim em fatos que pudessem ser comprovados. Foi um processo longo, mas no século XIX a ciência finalmente conseguiu se firmar como base.
Atualmente no século XXI somos fruto de todo este longo processo. Sem ele, o conhecimento não teria o aprimoramento que se tem hoje. Em vez da imprensa há hoje a tecnologia e a transmissão de informações em um curto espaço de tempo. A comunicação online rompeu de vez as distâncias geográficas e as obras bibliográficas tem sido substituídas pela leitura em arquivos digitais. Porém nada disso ocorreria se no passado algo novo não tivesse sido inventado e revolucionado padrões. E é assim até o agora: o ser humano é em todos os períodos históricos um produto do que já foi criado. O passado constrói o presente e este é o instrumento para se inovar no futuro.
BIBLIOGRAFIA
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