Postagem 1


O tema da hiperconectividade e as mudanças nos paradigmas no contemporâneo fomentadas pelas novas tecnologias trazem questões para toda a sociedade - o que inclui as bibliotecas e demais serviços de informação (como arquivos, centros de documentação, museus, dentre outros locais voltados à cultura e à ciência).

Os avanços tecnológicos são, ao mesmo tempo, formados e formadores de aspectos sociais - afinal, a sociedade produz a tecnologia de que é capaz (a partir de recursos dos quais dispõe naquele momento), e também é produzida por esta tecnologia, pois há um enlace social que demanda que tais tecnologias sejam consumidas, integradas ao todo social. A hiperconectividade, portanto, é fruto desse apelo ao consumo tecnológico: o imperativo de se ter um smartphone para acessar serviços e meios de comunicação apenas disponíveis por aplicativos é um grande exemplo do que foi exposto até este momento do texto.

Hoje, várias das atividades humanas – desde estudo e trabalho até o lazer e entretenimento – são feitas através de dispositivos tecnológicos, e quando se quer fazê-las de forma “analógica”, dispende-se um esforço para tal, já que o novo normal é recorrer à tecnologia. Ou, então, fazer as coisas offline, sem o contato com uma tela, é um hábito que gerações mais antigas podem ter mantido e que podem ser vistas como algo ultrapassado pelas novas gerações, já nascidas sob o signo da conectividade total.

As bibliotecas, nesse contexto, têm o desafio não somente de como incorporar esses aparatos em seus afazeres cotidianos – o que foi uma discussão importante nos anos 1990, quando os computadores tiveram uma inserção maior nos serviços públicos e em determinados estratos da sociedade –, mas, atualmente, como se pensar a lógica de um mundo mediado pela tela quando o objeto físico oferecido pelas bibliotecas, primordialmente, é o livro. Ainda que pensemos na questão central da informação, que é de fato a matéria essencial do trabalho bibliotecário, existe um descompasso social entre, por exemplo, o que significa em termos educacionais o acesso a obras e o aprendizado apenas pelo meio digital, e a falta de reconhecimento social da importância das bibliotecas, vistas há séculos como meros depósitos de livros. Disponibilizar meios eletrônicos em bibliotecas é um passo importante; mas não parece ser uma resposta suficiente, pois parece uma inserção obrigatória, para cumprir com as expectativas sociais da era da hiperconectividade. Ainda que, sim, as bibliotecas e demais lugares precisem dispor de facilidades tecnológicas e atender a um usuário que esteja moldado a este modo de vida, não se resolve o paradoxo de que enquanto a biblioteca poderia ser um local de convívio real, de contraponto à hiperconectividade, oferecendo outros meios de leitura, escuta, pesquisa e compreensão, ela precise se adequar a linguagens e modos de vida tecnológicos que, em si, acabam por fragmentar a leitura, a discussão, o pensamento, e fomentando formas individualistas de se estar no mundo. 

 


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