Postagem 4 - Discussão sobre as resenhas - Sobre tecnologia e Biblioteconomia


Quando se fala em tecnologia, é inevitável se pensar no paradoxo de querer que recursos tecnológicos (como a inteligência artificial) avancem, e ao mesmo tempo temer pelo impacto que inevitavelmente teriam no mercado de trabalho. Se, por um lado, o desenvolvimento tecnológico permite que tarefas burocráticas sejam automatizadas ou que atividades perigosas sejam robotizadas, por outro, essa tecnologia serve como pretexto para a dispensa de mão-de-obra, com alegações econômicas. Essa preocupação persiste desde o trabalhador que cumpre funções administrativas até o mais especializado, a exemplo dos bibliotecários, cuja função na sociedade brasileira há tempos carece de reconhecimento enquanto profissional de cultura e de informação.

Pensando especificamente na questão das bibliotecas públicas e escolares: se a cultura e a educação são efetivamente secundárias em um país com economia dependente como o Brasil, a existência das bibliotecas é tratada como um corpo estranho na cidade (para quê servem?), e o acesso a elas, um luxo de que apenas determinadas camadas da sociedade podem desfrutar. A leitura pelo lazer e o conhecimento como prazer parecem algo distante da realidade da maioria das pessoas, que foram ensinadas a entender educação como memorização de dados para se atingir um objetivo institucional (notas, aprovação no vestibular, obtenção de títulos profissionais).

Com o avanço da tecnologia, e o desprezo histórico que elites (e os governos que as representam) têm à educação e à cultura no país, tem-se um horizonte de uma crescente desvalorização do profissional bibliotecário, e sua troca por máquinas que executariam seus serviços mais técnicos. Ou, paralelamente, haveria uma especulação das bibliotecas como possíveis espaços de investimento empresarial para cumprir suas agendas de marketing socialmente responsável e de privatização de bibliotecas públicas (a exemplo do que já acontece com museus, teatros e outros espaços artísticos). Mais do que mera consequência da tecnologia, os avanços tecnológicos seriam, ao meu ver, um meio oportuno para que empresários e governantes exerçam meios que garantam lucros e controle social sobre as bibliotecas, seus profissionais e seus usuários.

 


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