A competência em informação e a formação dos profissionais da informação em Portugal


A informação tem sua origem e seu destino na sociedade que a gera e a transforma em conhecimento, e à formação do profissional da informação se acrescentam os imperativos do trato com a informação e a compreensão tanto de sua origem (produção, registro e divulgação) quanto de suas finalidades sociais – como utilizá-la para gerar conhecimento o que sugere a necessidade de uma competência única, fundamental e multidimensional: a competência informacional – própria das profissões que fazem uso intensivo da informação.   A noção de competência informacional não é estática e limitada, mas configura-se como um conceito dinâmico que continua a crescer para incorporar uma gama cada vez maior de habilidades necessárias aos indivíduos inseridos na era da informação.

O impacto das transformações da sociedade e da tecnologia na formação do profissional da informação, com destaque para o rápido avanço das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) exigem novas posturas. Competências e aptidões fixadas hoje no cenário europeu são aplicáveis a um elenco vasto de diversas profissões, em particular ao profissional que têm como foco de trabalho a informação.

Na Europa há uma herança e uma tradição muito fortes ligadas à Documentação, que vêm desde Paul Otlet . Em Instituições do Ensino Superior público português distribuídas no circuito Porto, Lisboa e Coimbra,   encontramos excelente formação na área da Ciência da Informação, em geral, e, por extensão, em Gestão da Informação como sua área disciplinar subsidiária, em particular.

 Em Portugal havia o Curso de Bibliotecário-Arquivista até 1982, ano em que foi extinto e substituído pelo Curso de Especialização em Ciências Documentais. 

A partir de 2001, surgiu  um modelo de formação na Universidade do Porto com duas diferenças fundamentais: a de se tratar de uma formação ao nível da licenciatura e a de ter abolido a designação tradicional de “Ciências Documentais” passando a ter o nome de “Ciência da Informação”, o que pressupõe uma perspectiva mais abrangente e integradora de diversas áreas disciplinares afins.  Este novo curso vai de encontro à reestruturação em curso no ensino superior, provocada pela Declaração de Bolonha

A perspectiva unitária defendida para este Curso procura também fazer a síntese com a área dos chamados Sistemas (Tecnológicos) de Informação (SI), que vem ensaiando uma progressiva autonomização face à Informática e Computação tradicionais, tendo como campo de trabalho e profissionalização as Organizações em geral. O modelo da Licenciatura em Ciência da Informação da Universidade do Porto, congrega a Ciência da Informação  um conjunto de disciplinas que asseguram uma componente teórica e metodológica e contemplam as vertentes aplicadas desta área do saber (Arquivística, Biblioteconomia, Sistemas Tecnológicos de Informação), com as suas especificidades particulares. 

Nesta perspectiva, as matérias relativas à teoria e metodologias de investigação, à análise de sistemas, aos aspectos (técnicos) mais diversos de organização e representação da informação, ao armazenamento e recuperação, ao comportamento informacional, à própria sociedade da informação são concentradas em disciplinas nucleares e obrigatórias. A par delas, mas ainda dentro da mesma área científica, existem disciplinas que atentam nas especificidades dos diversos tipos de sistemas de informação (arquivos, bibliotecas ou sistemas tecnológicos de recuperação da informação), direcionadas, por isso, para as componentes aplicadas da própria Ciência da Informação. 

Exemplos das componentes curriculares que integram o plano de estudos de carácter interdisciplinar:

- do campo das Ciências Sociais e Humanas é incluído o conhecimento histórico das instituições (nas disciplinas de História da Administração Pública) e das práticas culturais (História da Cultura e História do Livro); o apoio instrumental da Paleografia; o contributo da Filosofia em matérias como a Lógica; o uso instrumental de línguas estrangeiras (designadamente o Inglês Técnico); a vertente sociológica relacionada com as Organizações (Sociologia das Organizações).

- da área da Informática e da Computação, é essencial o estudo das redes e dos sistemas computacionais, bem como a estruturação de bases de dados, nas disciplinas de Sistemas Computacionais e de Comunicação, Bases de Dados e Tecnologia Multimédia;

- a relação com as ciências da Gestão e da Administração, englobando um espectro largo que inclui o Direito, manifesta-se em disciplinas como Fundamentos de Gestão, Sistemas de Apoio à Decisão, Direito Administrativo e Direito da Informação;

- a Física e a Química e outras ciências naturais e sua aplicação ao tratamento dos suportes de informação são também elementos importantes no design curricular, nomeadamente no que respeita à disciplina de Preservação e Conservação;

-  das ciências da Comunicação e das ciências cognitivas, em disciplinas como,, Psicologia Cognitiva, Motivação e Aprendizagem.

O intercâmbio  de experiências, conhecimentos, problemas e necessidades podem ser de grande utilidade quando desejamos conhecer uma área temática como a competência em informação, e a trajetória de Portugal quanto à formação profissional pode guardar semelhanças e exemplos para o campo no Brasil.

 

Fontes : 

VITORINO, Elizete Vieira; SILVA, Armando Malheiros da .  A formação de profissionais da informação em Portugal e Espanha: um contexto necessário para compreender a competência em informação . Cadernos BAD, 2016, N. 1, jan-jun, pp. 137-156. Disponível em https://brapci.inf.br/index.php/res/v/62657#:~:text=Trata%2Dse%20de%20uma%20pesquisa,compet%C3%AAncia%20em%20informa%C3%A7%C3%A3o%20nesse%20contexto  , acessado em 21/05/2020

RIBEIRO, Fernanda . Formação e mercado de trabalho em Informação e Documentação em Portugal . Disponível em https://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/artigo11111.pdf , acessado em 21/05/2020


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