Atividade Avaliativa 4 - Camila matutino - Tecnologia e o Mundo Atual - discussão das resenhas
Postagem realizada em: 06/06/2021 às 22:32:45 - Última atualização em: 07/06/2021 às 01:14:49
Autor: Camila Fernanda Ribeiro Rocha
Sem dúvidas a tecnologia trouxe consigo muitas transformações quando o assunto é o acesso e a expansão do conhecimento. Pensar atualmente em um conhecimento trocado por carta por poucos pesquisadores ou então através de algumas poucas publicações científicas (como o Journal de Sçavans na França e o Transactions of the Royal Society na Inglaterra por volta do ano de 1665 d.C.) é refletir sobre um tempo retrógrado e que não existe mais.
Antes os saberes eram compartilhados de forma muito lenta e pouco efetiva. Isso sem contar que os padrões religiosos influenciaram a maneira pela qual o homem buscou a ciência. Somente a partir do século XIX o panorama mudou e o homem buscou ir além. A ciência a partir de então trabalhou com a experimentação e a razão e não mais com teorias que não tinham embasamento teórico.
Uma prova disso são as novas publicações que surgem a partir deste período como a Nature em 1869, a Engineering Index (1884), Chemical Abstract em 1907, Index Medicus (1869) e o Excerpta Medica (1946).
Com Implantação da tecnologia e o advento da Internet (1969) o avanço da ciência e das pesquisas se expandiu ainda mais, pois as trocas informacionais se expandiram em relação ao padrão citado anteriormente. Esse processo será melhor descrito a seguir.
No início do século XX o computador era utilizado quase que exclusivamente para intentos governamentais e no auxílio às questões da guerra. Porém esse equipamento gastava muito espaço e necessitava de constantes manutenções.
Num curto espaço de tempo essa tecnologia evoluiu e o computador passou a ser utilizado também nas universidades e locais de ensino para pesquisa. A troca de informações tornou-se muito mais rápida via e-mail e por meio de repositório de dados que começaram a se tornar referências de saberes científicos. Exemplos: MEDLARS, NASA, ISI, Medline, Embase.
Em 1980 algumas das principais bibliotecas do mundo começaram a obter softwares e dados em disquetes e ofertavam bancos de dados em CD-ROMS. Eles continham textos acadêmicos e interfaces de pesquisa.
Aqui se tem caracterizada a chamada Web 1.0. Nela o uso da Internet era basicamente para a comunicação via e-mail (que procurava transmitir de forma mais rápida a comunicação antes realizada por carta e por telefone) e consultar dados disponibilizados por empresas e instituições.
Criar conteúdos online era algo quase exclusivo de profissionais da área de tecnologia. E os meios de comunicação online eram entendidos como uma extensão dos meios de comunicação tradicionais.
Em sua configuração o usuário em rede era apenas um mero espectador da informação, sem nenhum tipo de interferência no fluxo informacional disponibilizado nela ou qualquer tipo de participação ativa na produção de conteúdos online.
Apesar das restrições colocadas acima, a Web 1.0 foi uma revolução. As distâncias não eram mais geográficas e sim medidas agora pela acessibilidade à tecnologia.
É exatamente isso que Luciano Floridi professor da Oxford viu na questão da conectividade contemporânea. Para ele a Internet é como uma quarta revolução mundial. A primeira foi quando Copérnico disse que a Terra não era o centro do universo; a segunda aconteceu quando Darwin colocou o homem como mais uma mesma espécie que descende de um mesmo ancestral; a terceira seria quando Sigmund Freud desvendou que o subconsciente é o que impede a razão de ser transparente. E finalmente a quarta revolução seria quando Alan Touring matemático britânico decodificou mensagens encriptadas – isso fez com que o ser humano se percebesse como um ser informacional interconectado pela primeira vez.
Diante deste panorama, pode-se perceber que o homem então expandiu seus limites tanto em termos de conhecimento científico, como geográficos e até mesmo sociais. Porém o processo de apreciação da tecnologia não parou por aí.
O sucesso do computador foi tão grande que passou de algo de acadêmico e governamental para algo pessoal. Em 1984 foi lançado o primeiro computador pessoal o Macintosh Apple nos Estados Unidos. Sua aderência foi tão representativa que em 1987 a Internet foi liberada para uso comercial neste país. E depois disso, o mundo todo se conectou através dos dispositivos de uso pessoal com Internet.
Esses recursos tecnológicos novamente mudaram a forma como o homem se relaciona com o conhecimento científico. Com a expansão do processo informacional novos recursos tiveram de ser implementados para que os saberes fossem encontrados pelos pesquisadores. Houve uma democratização do acesso ao conteúdo informacional como nunca visto antes na história.
O usuário então neste contexto não é mais um simples recebedor de dados, mas alguém que começa a interagir com eles e que os relaciona com os mais diversos tipos de saberes.
Houve então a implantação da chamada Web 2.0. Seria em outras palavras um cruzamento das velhas com as novas mídias, o que inovou a maneira como se produzem e se ressignificam os mais variados tipos de conteúdos. Este processo pode denominado de trans mídia.
Ela permitiu que o usuário fosse um agente dentro da tecnologia. Novos padrões de utilização dela são colocados com a interatividade online. A passividade e somente o receber informações não são mais aceitos. A ciência então ganha uma nova perspectiva: ela evolui muito em sua substância por intermédio da troca entre os pares de pesquisa.
No Brasil todo este processo de passagem da Web 1.0 para a Web 2.0 pode ser melhor visto na visão de Brasilina Passarelli. Ela propõe a existência de duas ondas informacionais que ocorreram no país para demonstrar esta transição.
A primeira aconteceu por volta dos anos 2000 se caracteriza por promover o acesso à tecnologização e a formação de uma infraestrutura para que estes recursos chegassem às populações mais carentes financeiramente. Um exemplo deste processo foi o programa implantado pelo governo da cidade de São Paulo denominado Acessa SP que construiu cerca de 595 infocentros no estado de acesso à Internet , fez por volta de 45,5 milhões de atendimentos e tinha 1,9 milhão de usuários cadastrados.
A segunda onda descrita pela autora ocorreu por volta do ano de 2006, onde os usuários da tecnologia já não eram mais passivos, mas sim agentes tecnológicos conectados que possuem competências (habilidades) para tornarem estes recursos úteis à quem os utiliza.
A Web 2.0 trouxe com elas outras necessidades. Uma delas é a questão de que o usuário precisa para obter uma informação (seja em que âmbito for) de um domínio da tecnologia. Ele precisa ter um manejo de como ela funciona para ter um conhecimento científico comprovado e substancial.
Neste contexto foram criadas as chamadas Literacias de Mídia e Informação. Elas seriam um arcabouço teórico para professores para que estes possam formar futuramente cidadãos letrados na sociedade digital atual, ou seja, propiciar que seus alunos tenham uma autonomia para lidar com as interfaces digitais. Seu objetivo é formar atores em rede. Este seria o primeiro passo para o avanço científico.
Atualmente não se é possível mais obter um saber sobre dada temática de forma plena sem passar pela tecnologia e pela intermediação de algum recurso informacional.
A informação tornou-se então uma grande força motriz da estrutura social; o que possibilitou a implantação de novos padrões como a economia criativa, as inovações tecnológicas e a sobreposição de tecnologias antigas.
Sem dúvidas a das principais destas implantações foi a Web 3.0 ou a chamada World Wide Database (base de dados mundial); isto é, a melhor utilização pelos programas de software de uma gama infinita de dados. Isso será potencializado através dos recursos de Inteligência Artificial e de machine learning (máquinas que aprendem). Para o usuário, isso significa a propiciação de um conteúdo personalizado, que entendam as suas necessidades individuais, sejam estás em termos acadêmicos ou não.
Neste cenário, percebe-se que a conectividade está cada vez mais inserida na vida dos usuários. A Internet conquistou um espaço cada vez maior no cotidiano das pessoas. Tornou-se por assim dizer um estilo de vida na sociedade cada vez mais informatizada. Nas palavras de Luciano Floridi professor da Oxford seria estar Onlife (junção da conectividade online com a vida humana).
Em sua perspectiva o conteúdo informacional foi e é fundamental no desenvolver das sociedades mais avançadas mundialmente e elas buscam a informação nos mais variados suportes.
Para ser uma noção desta realidade, em sua pesquisa de 2010 pode-se afirmar nos 7 países mais influentes do mundo, 70% de seu Produto Interno Bruto era proveniente de bens intangíveis – informacionais.
Diante deste panorama, pensar no ser humano sem de alguma forma vinculá-lo com a tecnologia é algo que está cada vez mais ultrapassado. Desvincular as duas coisas é algo que não pode mais ser feito diante de um mundo globalizado conectado.
O aumento dessa relação trouxe a implantação de mais recursos tecnológicos como a Big Data, a Internet das Coisas e a Inteligência Artificial. Eles foram implantados através da Web 3.0 e trouxeram com ela novas discussões.
A principal dela é em relação a segurança de dados pessoais. Hoje com um click podem se obter informações pessoais cadastrais ou de então de preferências de gostos. Em poucos segundos pode ser obter um perfil pessoal que aponta para um perfil de usuário. Este traz consigo uma grande necessidade comercial e social. Algo que antes da Internet nem seria possível pensar.
Outra questão muito discutida no contexto também da Web 3.0 é a do aspecto humano em si. Não adianta ter a tecnologia avançada se o homem não conseguir atuar por ele mesmo como ser pensante e atuante e for por uma maioria. A tecnologia tende a massificar opiniões e padronizar pessoas por perfis.
Por último há ainda em debate em relação a este assunto mencionado, o fato da implantação da tecnologia em áreas como a medicina. Há uma grande discussão em relação à busca de dar longevidade à vida humana - o chamado Trans humanismo. Em outras palavras, a tecnologia tem sido usada para evoluir o potencial humano de vida como a implantação de próteses cada vez mais avançadas e nas pesquisas de assuntos como células-tronco e mudanças genéticas.
Todo este processo, colocou em cheque as Literacias citadas anteriormente. O que foi discutido na Web 2.0 já não abarcava mais todas essas mudanças. Por isso novos conceitos e novas perspectivas de se compreender a relação do homem com a tecnologia foram colocadas. Um deles foi a Transliteracia.
Ela seria a conexão entre as mais diversas literacias (competências) e sua interação com os mais variados tipos de saberes. O resultado de tudo isso seria uma interatividade entre a tecnologia e sua relação com o conhecimento.
Neste contexto, pode-se perceber através da Transliteracia que os algoritmos que antes eram responsáveis para realizar tarefas programadas, são atualmente responsáveis por decisões, avaliações e análises que fazem uma diferença concreta no cotidiano da sociedade.
Uma prova disso foi uma pesquisa realizada no Brasil com jovens na cidade de São Caetano do Sul cidade do Estado de São Paulo no ano de 2016.
Todos eles tinham a conectividade à Internet através principalmente de dispositivos móveis, mas não os utilizavam para obter conhecimentos científicos em sua maioria e sim para interação (comunicação).
Percebe-se no resultado deste estudo que o problema já não é mais o acesso à Internet e aos recursos de tecnologia, mas sim como usá-los de forma prática para evoluir o conhecimento científico e uma prática deles aos alunos mencionados. Os dispositivos móveis facilitaram a acessibilidade mas não a qualidade do que se acessa.
Isso prova a necessidade da TransLiteracia não somente neste país mas no mundo todo. A educação tecnológica não pode estar mais vinculada somente à questão do acesso, pois hoje se vive um momento em que a tecnologia e o homem estão entrelaçados em uma relação onde um molda o outro em vários aspectos.
Neste sentido, entender a relação homem - tecnologia é algo muito mais profundo do que parece. É compreender uma revolução que além de ter várias etapas está em constante atualização e principalmente não é algo que pode ser previsto no futuro.
Por isso equilibrar a questão humana com estes recursos digitais é fundamental. O ser humano não pode ser uma máquina em seus relacionamentos assim como a máquina também não deve ser deixada de lado no cotidiano dele, pois ele está atrelada às ela em quase todos os âmbitos que o cercam.
É a utilização da tecnologia para desenvolver os aspectos acadêmicos do homem e dar à ciência um real desenvolver - uma prática que vai além do superficial.
REFERÊNCIAS
PASSARELLI,B Mediação da informação no hibridismo contemporâneo: um breve estado da arte Ci.Inf., Brasília, DF, v.43 n.2, p.231-240, maio/ago., 2014.
PASSARELLI, B; ANGELUCI, A.C. B. Conectividade Continua e Acesso Móvel à Informação Digital. Inf.& Soc.: Est, João Pessoa, v.28, n.2, p. 197-208, maio/ago 2018.
PASSARELLI,B.;GOMES, A.C.F. Transliteracias: A Terceira Onda Informacional nas Humanidades Digitais. Revista Ibero Americana de Ciência da Informação, Brasília, v.13, n.1, 2020.