Revisitando Paul Otlet
Postagem realizada em: 29/08/2021 às 23:38:12 - Última atualização em: 29/08/2021 às 23:39:51
Autor: Olívia Campos
Na aula sobre Tipos de Fontes de Informação, a professora Brasilina realizou uma exposição panorâmica percorrendo aproximadamente 5.000 anos de história - desde as bibliotecas da antiguidade com suas tabuletas de argila e escrita cuneiforme até os computadores - na qual destacou , entre outros aspectos, “revoluções de massificação da informação”, uma das quais corresponde ao desenvolvimento da documentação em fins do século XIX.
O intelectual belga Paul Otlet (1868-1944) é hoje considerado o “pai da documentação”, mas, apesar da importância de suas obras institucionais e teóricas, sua contribuição permaneceu em relativo esquecimento até ser retomada na década de 1980, no contexto de desenvolvimento da “World Wide Web”. Por estes motivos e pelo caráter visionário do pensamento de Otlet, gostaríamos de apresentar brevemente o surgimento da documentação apoiado em excertos retirados de fonte primária, ou seja, de obra escrita pelo próprio autor em questão.
A referida massificação da informação de fins do século XIX está muito relacionada ao aumento da quantidade e importância dos periódicos científicos. Conforme Otlet: O lugar eminente que ocupava outrora o livro veio a ser ocupado pelo periódico. Diz-se que há, pelo menos, 30 000 periódicos nos quais são lançados artigos, análises e relações de obras, informações. Questões tangentes à organização e acesso desta considerável massa preocupavam Paul Otlet, que, além de várias iniciativas institucionais empreendidas juntamente com Henri La Fontaine – desde a I Conferência Internacional de Bibliografia e respectiva criação do Instituto Internacional de Bibliografia (1895) até o planejamento de uma “cidade do conhecimento”, o Mundaneum –, deu início à criação de uma nova disciplina. A documentação preocuparia-se em inventariar de forma cooperativa, e não em reunir fisicamente, toda a produção humana de conhecimento registrado e preservado por diferentes tipos de instituições, apresentando, portanto, uma preocupação pós-custodial. Segundo Otlet:
Não é bastante [...] à documentação produzir e acumular confusamente; ela deve remontar a seus fins, saber registrar segundo a ciência, saber criar segundo a arte e saber aplicar segundo a utilidade. E ainda:
Na Documentação trabalham, continuamente, duas tendências: uma, a especialização, donde a divisão de tarefas, outra, a combinação, donde a colaboração.
O “Traité de Documentation” de Paul Otlet foi publicado em 1934 e nele o autor desenvolve um amplo conceito de documento. Para Otlet: Documento é o livro, a revista, o jornal; é a peça de arquivo, a estampa, a fotografia, a medalha, a música; é, também, atualmente, o filme, o disco e toda a parte documental que precede ou sucede a emissão radiofônica. E também:
As operações e os produtos da documentação (todas as espécies de documentos) ocorrem no ciclo assim definido. O homem, alternativamente, retira idéias da realidade ou introduz idéias na realidade; entre a realidade e a idéia intervém, cada vez mais, os documentos que, por sua vez, servem à elaboração de novos documentos.
E sua respectiva ciência:
A Documentação é constituída por uma série de operações distribuídas [...] O autor, o copista, o impressor, o editor, o livreiro, o bibliotecário, o documentador, o bibliógrafo, o crítico, o analista, o compilador, o leitor, o pesquisador, o trabalhador intelectual.
A Documentação acompanha o documento desde o instante em que ele surge da pena do autor até o momento em que impressiona o cérebro do leitor.
[A Documentação] está em toda parte onde se fale (Universidade), onde se leia (Biblioteca), onde se discuta (Sociedade), onde se colecione (Museu), onde se pesquise (Laboratório), onde se administre (Administração), onde se trabalhe (Oficina).
O desenvolvimento da documentação na Europa conheceu ainda, antes de cair em esquecimento, uma nova ampliação do conceito de “documento”, que passou a incorporar também objetos naturais, e mesmo seres vivos, os quais podem, em determinado contexto, assumir uma “função documental”. Se a “neodocumentação” resgatou Otlet e suas ideias, em 2012, o Google reconheceu suas origens nos trabalhos de Otlet e La Fontaine e os considerou pioneiros da Internet na Europa.
Um dia, bastará fazer mover pequenas agulhas, sobre um quadrante numerado de um mostrador, para ler, diretamente, as últimas informações dadas pela Enciclopédia Mundial, disposta como um centro de irradiação contínua. Esse será o livro que, contendo todos os assuntos, estará à disposição do universo, vislumbrou Otlet.
Referências
ARAÚJO, Carlos Alberto Ávila. O que é ciência da informação. Belo Horizonte, KMA, 2018. p. 9-17.
OTLET, Paul. Documentos e Documentação: Introdução ao trabalhos do Congresso Mundial da Documentação Universal, realizado em Paris, em 1937. Disponível em: www.conexaorio.com/biti/otlet/. Acesso em: 27 ago. 2021.
Site Mundaneum: http://www.mundaneum.org/. Acesso em: 29 ago. 2021.