Agências de notícia: breve investigação


Na aula sobre Evolução dos Registros Informacionais, entre outros tópicos, foi comparada a cadeia tradicional de produção de informação, tendo o jornal como veículo característico de circulação, à produção contemporânea, que comporta a auto-edição e disseminação pelas mídias e redes sociais, e coloca questões de confiabilidade da informação. No circuito tradicional, e ainda operante, as agências de notícias correspondem a um elo fundamental sobre o qual nos propomos a discorrer em termos de definição, funcionamento e breves aspectos históricos.

Em consulta ao “Dicionário de Biblioteconomia e Arquivologia”, encontrou-se, no verbete informação, a definição específica de informação de agência de notícia (CUNHA; CAVALCANTI, 2008, p. 201-202) como: “material informativo de imprensa comercializado por agências de notícias, e constituído de notícias e fotografias, publicadas em jornais e revistas”. O verbete da Wikipédia define agência de notícias ou agência noticiosa como uma empresa jornalística especializada em difundir informações e notícias diretamente das fontes para os veículos de comunicaçãojornaisrevistasrádiosTVswebsites.

Quanto ao funcionamento, as agências de notícias operam através de escritórios locais e jornalistas correspondentes em diferentes cidades e países, que transmitem sua apuração para as centrais, as quais por sua vez redistribuem o material - que pode ser de naturezas muito distintas (entrevistas, fotos, imagens, etc.) - para os clientes -  no jargão jornalístico, assinantes - jornaisrevistasrádiostelevisõeswebsites. Deste modo, a agência de notícias pode ser considerada um vendedor atacadista de informação e se constitui em fonte imprescindível da mesma, sobretudo por motivos econômicos, pois, o recurso aos seus serviços permite aos veículos fornecer prontamente notícias sobre países onde não possuem correspondentes, ou fatos que não têm meios de apurar por si mesmos. Todavia, para além das agências de tipo comercial, que vendem os serviços e obtém lucro (ReutersAFP Agence France-Presse, EFE espanhola), há também as cooperativas, constituídas de diversos órgãos de informação associados para compartilhar e aumentar o volume de notícias em circulação (AP Associated Press, IPS Inter Press Service, NANAP Agência de Notícias Comum dos Países Não Alinhados).

Relativo aos aspectos históricos, as agências de notícias surgiram no século XIX nos países mais industrializados do continen­te europeu, na França foi fundada a pioneira Havas, por Charles-Louis Havas, em 1835; na então Prússia, a Wolff, por Bernard Wolff, em 1849; no Reino Unido, a Reuteurs, por Julius Reuter, em 1851. Nos Estados Unidos, área de maior desenvol­vimento capitalista fora da Europa, foi fundada a Associated Press em 1846. Rapidamente, as pioneiras perceberam que a cobertura do mesmo evento pelas três agências gerava redundância de serviços, aumentava custos e dividia mercados e concretamente, em 1859, Ha­vas, Reuter e Wolff comprometeram-se a prestar cooperação mútua, dividindo o trabalho na Europa e em ou­tros continentes. A repartição do mundo entre áreas de atuação, nas quais cada uma teria monopólio tanto sobre a apuração de notícias quanto sobre a venda de assina­turas para a imprensa local, além de ter conformado um verdadeiro cartel que entraria em declínio somente a partir da Primeira Guer­ra Mundial, trata-se, para Pedro Aguiar (2015), de um simbólico antecedente do Congresso de Berlim. Em a “Geopolítica da Informação”, Anthony Smith (1980 apud AGUIAR, 2015, p. 28), assim descreve a cartografia do cartel:

[...] “a Reuters ‘obteve’ todo o Império Britânico e todo o Oriente Médio”, enquanto a Havas “recebeu” a Itália, a Espanha e os impérios coloniais francês e português; “à Wolff couberam as zonas menos lucrativas da Áustria e seus territórios periféricos além da Escandinávia e da Rússia”. Smith acrescenta que “Reuter e Havas concordaram em entrar juntos na América do Sul e com­partilhar os lucros, embora, mais tarde [1876], a Havas tenha ficado com todo o continente”.

A interpretação de Aguiar, e de outros autores, é que as agências de notícias funcionando em cartel não podem ser entendidas apenas como produto do desenvolvimento do capitalismo imperialista. No entanto, enquanto infraestrutura de circulação do capital, tão importantes quanto a ferrovia e o telégrafo – as redes telegráficas terrestres e submarinas foram, elas próprias, essenciais para o desenvolvimento das agências -, foram instrumento da expansão neocolonial. Por outro lado, é possível reconhecer as atuais desigualdades do fluxo de notícias como decorrentes, em grande medida, deste processo histórico. Para finalizar, da breve pesquisa empreendida com o objetivo de entender um pouco melhor as agências de notícias, ganharam relevância a faceta da informação enquanto mercadoria e seu valor de uso estratégico.

 

Referências:

AGUIAR, Pedro. O império das agências: territórios, cartel e circulação da informação internacional (1859-1934). Revista Eletrônica Internacional de Economia Política da Informação, da Comunicação e da Cultura, v. 17, p. 18-38, 2015. Disponível em: https://seer.ufs.br/index.php/eptic/article/view/18/pdf. Acesso em: 12 set. 2021.

CUNHA, Murilo Bastos da; CAVALCANTI, Cordélia Robalinho de Oliveira. Dicionário de biblioteconomia e arquivologia. Brasília: Briquet de Lemos, 2008.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Ag%C3%AAncia_de_not%C3%ADcias. Acesso em: 12 set. 2021.

 


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