Resenhas 20/09/21 - Esther Fernandes
Postagem realizada em: 24/09/2021 às 23:06:35
Autor: Esther Silva
Esther Fernandes Martins da Silva
Período Matutino
Resenha de “A Escola do Futuro (USP) na construção da cibercultura no Brasil: interfaces, impactos, reflexões”
Em “A Escola do Futuro (USP) na construção da cibercultura no Brasil: interfaces, impactos, reflexões”, artigo escrito Antonio Helio Junqueira e Brasilina Passarelli, inicia nos introduzindo brevemente à chegada da Internet no Brasil, e o surgimento do Núcleo de Pesquisa das Novas Tecnologias Aplicadas à Educação Escola do Futuro (NAP EF/USP), grupo formado na Universidade de São Paulo para estudar o panorama das novas tecnologias de informação e comunicação no país. A atuação do NAP EF se adequou a duas “ondas”: na primeira, os esforços foram direcionados às políticas de acesso e inclusão digital; na segunda, houve um foco na análise de novas maneiras de lidar com o acúmulo crescente de informações e com a adesão de novas tecnologias ao cotidiano.
De maneira explicativa, é posteriormente apresentado o termo “literacia” para abranger as práticas relacionadas à inclusão no uso das tecnologias informacionais e comunicacionais. Foi mencionado ainda o termo cunhado por Paul Gilster (1997 apud JUNQUEIRA, PASSARELLI. 2011) “literacia digital”, que especificaria a prática como a capacidade de utilizar as informações apresentadas por meio de computadores, e, no contexto, entendo que a literacia digital estende-se a todo tipo de dispositivo tecnológico com função comunicativa. A literacia se torna a expressão ideal para definir “habilitação” nos usos das tecnologias comunicativas pois vai além da habilidade, ao incluir também a aplicação de conhecimentos e hábitos adquiridos no ambiente virtual no cotidiano do mundo físico e difere-se do letramento ao ter um foco diferente da alfabetização e desenvolvimento da escrita e leitura; as literacias no contexto informacional e digital propõe que indivíduos desenvolvam noções críticas em relação às tecnologias e à informação transmitida através delas, o que também faz com que seus valores e opiniões sejam trabalhados nos campos político e social.
Nos estudos brasileiros sobre as literacias emergentes – pesquisadas inclusive pelo NAP EF – surge como elemento essencial a etnografia, auxiliando no estudo dos comportamentos de comunidades e nas utilizações dos conhecimentos virtuais. E etnografia virtual, adaptada para este contexto, permite a análise de dados das comunidades virtuais com base em teorias da própria etnologia e da antropologia. Um exemplo da utilização da etnografia virtual é análise da imersão dos usuários nos ambientes digitais, que mostrou que os indivíduos estão começando a construir novas identidades que interferem na maneira como experimental o “real”.
Neste contexto – e após uma menção da possibilidade “recente” da prática da educação em ambientes virtuais que surgiu pelo acesso à ferramentas tecnológicas e pelo desenvolvimento dos ambientes virtuais de aprendizagem – são apresentados os programas: “AcessaSP”, instituído em 2000 focado na inclusão digital através da disponibilização de dispositivos e de internet gratuita; “Entremeios São Bernardo do Campo”, iniciado em 2010 e que promove o uso das tecnologias informacionais e comunicacionais nas escolas públicas da região; “Acessa Escola”, iniciado em 2009 também busca a inclusão digital, com foco no desenvolvimento do aprendizado dos alunos da rede pública e de sua inserção na cultura digital; “Programa REDEFOR”, iniciado no começo de 2011 através de uma parceria entre o NAP EF/USP e o Observatório da Cultura Digital, que oferece cursos de pós-graduação para docentes da rede pública do Estado de São Paulo em um acordo com o Governo do Estado e as três universidades públicas conveniadas (USP, UNESP e UNICAMP). Conclui-se que o NAP EF/USP assumiu um papel importante na história da inserção das novas tecnologias informacionais na realidade brasileira, e também no trabalho realizado para que essas tecnologias pudessem ser acessadas por todos.
Resenha de “Do Mundaneum à WEB Semântica: discussão sobre a revolução nos conceitos de autor e autoridade das fontes de informação”
No texto “Do Mundaneum à WEB Semântica: discussão sobre a revolução nos conceitos de autor e autoridade das fontes de informação”, somos apresentados inicialmente ao já conhecido na Biblioteconomia Paul Otlet, famoso pelas contribuições na área da Documentação como a criação da Classificação Decimal Universal (CDU), inspirado na Classificação Decimal de Melvil Dewey (CDD). Em 1910, foi inaugurado o Mundaneum, museu feito para abrigar a produção de conhecimento na época organizadas em fichas segundo seu sistema de classificação, e Otlet ainda desenvolvia o projeto de uma enciclopédia universal criada a partir de seu acervo. Após realocações e divisões do museu, o Mundaneum se fixou na França com o mesmo nome. Otlet teve contribuições memoráveis que foram inspirações para a criação de outras ferramentas de acesso à informação e organização do conhecimento.
A partir dos anos 60, como menciona Brasilina (2008, p. 3), o mundo passou por três processos – a revolução da tecnologia, a crise do capitalismo e do estatismo e o crescimento de movimentos socioculturais – que ajudaram na formação de uma sociedade em rede com uma economia informacional. Neste novo modelo social, em 1989, é criada pelo cientista Tim Berners-Lee a World Wide Web Consortium (WWWC) – influenciado pelo trabalho do pesquisador Theodore Nelsen –, modelo de administração da Internet que permite que todos os usuários tenham o mesmo nível de acesso à informação. São mencionadas três gerações da Web: a 1.0 se refere à geração de conteúdos de baixa interatividade; a 2.0 é a geração marcada pela popularização das redes sociais e outros ambientes online de compartilhamento de informações ou interação entre usuário; e a 3.0, geração especulada como a próxima e também conhecida como Web Semântica, presume uma evolução da capacidade de busca e no “auto-reconhecimento dos conteúdos por meio de metadados” (p. 4). No período de publicação do artigo existiam dois projetos visando atingir as evoluções da geração 3.0, como o FOAF – Friend of a Friend, de 2000, e o Piggy Bank, de 2007.
Nos anos 90, surgem estudos sobre novos fenômenos trazidos dos ambientes virtuais, como a adoção de outras identidades em ambientes e o surgimento de comunidades nesses mesmos ambientes. Como destaca Passarelli, é neste contexto que é visivel a mudança nas estruturas de comunicação e no câmbio de informações, alterados pelo abandono das narrativas de comunicação lineares predominantes até o século XX e pelo surgimento do hipertexto, com seu sistema de links que transporta o usuário de um documento ou ambiente virtual para o outro.
A comunicação científica também é afetada pelas mudanças na comunicação, sendo, por exemplo, levantada a questão de que pequenos textos sem verificação científica agora substituem trabalhos científicos maiores na função de informar a comunidade. Uma das fontes de informação "inimiga" das fontes tradicionais é a Wikipédia, projeto que propõe um ambiente que dá suporte à uma enciclopédia que pode ser acessada e editada por qualquer usuário, sem um processo formal de revisão; uma pesquisa realizada pela revista Nature em 2005 mostrou, contudo, que a falta de uma revisão formal não invalidava, na época, o conteúdo da Wikipédia, sendo mostrado que a enciclopédia online possuía uma quantidade similar de erros e equívocos aos da famosa enciclopédia Britannica. Por fim, assim como o conflito entre as enciclopédias vindas de iniciativas online e as tradicionais não possui uma solução exata, outras questões relacionadas aos dispositivos comunicacionais e informacionais parecem sem solução, e apesar desta resenha ter sido escrita treze anos após a publicação do artigo de Passarelli, o futuro ainda promete mudanças para a ciência da informação e para as dinâmicas sociais e culturais influenciadas pelas novas tecnologias.