Resenhas
Postagem realizada em: 27/09/2021 às 07:48:37
Autor: Vivian Jeronimo
Universidade de São Paulo
Escola de Comunicações e Artes
Departamento de Biblioteconomia e Documentação
Resenha para disciplina Recursos Informacionais I:
Do Mundaneum à Websemântica e A Escola do Futuro (USP) na construção da cibercultura no Brasil
Docente: Brasilina Passarelli
Discente: Vivian Maria Mota Jeronimo
Número USP: 10732711
Período: Matutino
São Paulo,
Setembro de 2021
Do Mundaneum à Websemântica
O Artigo “Do Mundaneum à Websemântica” de Brasilina Passarelli se inicia discorrendo sobre a história de Paul Otlet, o “pai” da ciência da informação. O texto fala uma das criações de Otlet o Mundaneum , museu inaugurado em 1910 para abrigar fisicamente a produção de conhecimento da época. O Mundaneum chegou a contar com 70 milhões de entradas em fichas de papel 3 x 5 e organizadas na Classificação Decimal Universal (também criada por Otlet com base na Classificação Decimal de Dewey – CDD), a CDU.
O Mundaneum ficou hospedado em salas do Palácio Cinquentenário, cedidas para o uso pelo governo belga e conforme o espaço foi revogado, o acervo ficou espalhado entre diversas instituições. Atualmente o acervo original do Mundaneum se encontra no museu Mundaneum na França.
Paul Otlet ficou conhecido por suas ideias futuristas que vieram a inspirar pesquisadores futuros na busca de ferramentas para o controle bibliográfico e que agora fazem parte do século XXI. É de autoria de Otlet os termos web of knowledge, link e repository of knowledge.
Em seguida, o artigo nos apresenta as três gerações da Web. Iniciando pela Web 1.0 que foi a internet em seu início, com sites estáticos e baixa interatividade. Já a Web 2.0, presente na época em que o artigo foi elaborado, é caracterizada como a era das redes sociais e sites e ferramentas nas quais os usuários agregam valor a conteúdos com valorização pessoal. Youtube, MySpace, Wikipedia, entre outros, caracterizam bem essa geração. A Web 3.0, descrita também como web semântica, foi definida como “uma Web com maior capacidade de busca e auto-reconhecimento dos conteúdos por meio de metadados com descrições ligados aos conteúdos originais”. A tecnologia da Web 3.0 ainda não existia concretamente quando o artigo foi publicado e com isso a autora descreve a dificuldade da época de se chegar em tal geração e cita algumas plataformas que deram um passo inicial na direção da mesma.
Dando continuidade, a autora cita os trabalhos de Howard Rheingold, sobre comunidades virtuais, e de Sherry Turkle, sobre diferentes personas no ambiente virtual, ambos realizados na década de 90, mas ainda atuais com os fenômenos da web do momento. A autora ainda fala sobre as estruturas abertas que possibilitam autoria coletiva e cooperativa, uma vez que permitem ao usuário editar e agregar informações e abre uma reflexão acerca das mutações profundas na comunicação da informação. A presença de hipertextos tornou possível a narrativa não linear, uma vez que insere links em alguns trechos de um documento para outros documentos, o que pode resultar em um trajeto infinito de um documento a outro. O hipertexto juntamente com a Web trouxe novos adjetivos ao acesso à informação como instantaneidade, transitoriedade, interoperabilidade e interatividade.
Prosseguindo no texto, há um recorte sobre a Wikipedia com o slogan “a enciclopédia livre que qualquer um pode editar”. É a mais popular entre as enciclopédias na web e conta com a colaboração de qualquer usuário como autor, sem processo formal de revisão. No ano de 2008 a Wikipedia esperava cerca um bilhão de novos usuários não ocidentais que colaborassem com seus verbetes.
Dessa forma, surge um questionamento a respeito da credibilidade da Wikipedia principalmente em relação a enciclopédias tradicionais, a exemplo a Enciclopédia Britannica. A autora apresenta dados de pesquisa realizada pela Revista Nature, em 2005, se utilizando de revisão por pares para comparar a Wikipedia e a Enciclopédia Britannica no que diz respeito à cobertura de ciências. Os números de erros encontrados nas 42 entradas analisadas se aproximam muito, quatro na Wikipedia e 3 na Britannica. No número de erros com relação a fatos, omissões ou afirmação incompletas a diferença aumenta de 162 na Wikipedia para 123 na Britannica. Diversos outros artigos foram publicados posteriormente e diversos reiteraram a avaliação da Nature, mas alguns questionaram o método.
Dentro do debate sobre a credibilidade de uma enciclopédia coletiva online, a autora destaca um pesquisador da área de tecnologia, descrevendo-o como um dos “papas” da inteligência artificial, Jaron Lanier.
Lanier, que teme um maoísmo digital, critica não a iniciativa em si da Wikipedia, mas a rápida importância adquirida em tão pouco tempo. Ele fala sobre a leitura de uma entrada da Wikipedia em que muitas vozes são percebidas, mas não podem ser identificadas, ao passo que há a morte do autor individual. Jaron também cita que a maior parte do conteúdo presente nos verbetes da Wikipedia já existiam, antes de sua criação, em outros sites de institutos de pesquisa. Ele afirma que a beleza da internet está na conexão entre pessoas e que crença na internet como uma entidade com voz própria, resulta na desvalorização dos seus usuários.
Em conclusão, a autora termina o texto falando sobre o “futuro do futuro” e o que o começo do século XXI esperava para os anos que viriam. Anos depois é possível observar muitas das previsões concretizadas principalmente no que se diz respeito ao uso mais cotidiano do celular e a possibilidade de se acessar esse textos completos, base de dados, etc., entre muitas outras coisas.
A Escola do Futuro (USP) na construção da cibercultura no Brasil: interfaces, impactos, reflexões
O artigo A Escola do Futuro (USP) na construção da cibercultura no Brasil: interfaces, impactos, reflexões, dos autores Junqueira e Passareli se inicia apresentando o Núcleo de Pesquisa das Novas Tecnologias Aplicadas à Educação Escola do Futuro (NAP EF/USP). O grupo surgiu em meio à abertura da internet ao meio comercial no Brasil, composto por pesquisadores atrelados às novas tecnologias de informação e comunicação (TIC’s). O núcleo desde então estuda e pesquisa sobre as “sociedades de rede” e ações e comportamentos dos “atores em rede”, vista a importância sociocultural de tais fenômenos.
Assim, o NAP EF/USP sempre se empenhou em acompanhar o crescimento da cibercultura no Brasil, realinhando suas suas trajetórias, diretrizes e os embasamentos teórico-metodológicos de suas ações e pesquisas, e fazendo parte da vanguarda de projetos de intervenção social na educação e no protagonismo digital. Todos esses trabalhos e reflexões culminaram na criação, em 2007, do Observatório da Cultura Digital.
Os autores citam a coordenadora científica do NAP EF/USP, Brasilina Passareli que distingue duas ondas da sociedade em rede, sob a perspectiva sócio-cultural das últimas duas décadas do período. Para a coordenadora, a primeira onda tem por núcleo central as preocupações políticas e programas de inclusão digital, com as atenções se voltando principalmente à políticas de acesso e criação de infraestrutura a fim de diminuir a exclusão digital. Já a segunda onda se concentra em diferentes formas de apropriação e de produção de conhecimento dentro da web, que vem de um acúmulo de experiências e informações, tanto iniciativas públicas, como de privadas, e que por conseqüência trouxe a necessidade de novos enfoques à investigação.
Em um novo bloco, os autores refletem sobre Literacy principalmente quanto à dificuldade de uma palavra ou termo que consiga traduzir completamente o significado. Em suma Literacy incorpora a capacidade de indivíduos interagirem e se comunicarem utilizando-se das TICs. Há a discussão sobre diversos termos que se relacionam com Literacy como capacidade e habilidade, todavia no geral acaba-se sendo comum a tradução para literacia ou literacias digitais.
O NAP EF/USP tem as literacias emergentes como assunto de suas pesquisas. A pesquisadora Passareli diz que na passagem da cultura letrada para a cultura das diferentes mídias, a definição de literacia se expande para que possa adquirir novas características e pontencialidades da web 2.0, uma vez que os usuários precisam conseguir se comunicar através das ferramentas e linguagens presentes na interface de multimídias.
Nesse contexto, os autores citam Bruno Latour que afirma que “(...) uma rede social não é o que está representado no texto, mas quais leituras do texto podemos tirar do revezamento dos atores como mediadores destas ações”. Assim, a etnografia virtual se faz presente na analisar de comportamentos e atitudes em meio a comunidades virtuais e se faz importante no conhecimento do conceito das literacias emergentes na web.
Os autores no próximo bloco retomam com fatos e história acerca do NAP EF/USP e apresentam três projetos que o núcleo desenvolvia no ano de elaboração do artigo. Os projetos buscam a inovação no uso das TIC’s e os apresentados foram: O Programa AcessaSP, pautado na inclusão digital e protagonismo social; o Programa Rede EntreMeios, realizado em parceria com a Secretaria de Educação de São Bernando do Campo e que tinha por objetivo promover a integração de uso das TIC’S em escolas públicas do município; E o Programa Acessa Escola, coordenado pela Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE), buscou o incentivo à inclusão digital de alunos da rede pública estadual, além do fortalecimento da autonomia do aprendizado, de modo a contribuir para inserir esses alunos na cultura digital no uso da internet na escola.
Ainda sobre o NAP EF/USP o texto apresenta um pouco mais do Observatório da Cultura Digital cujas pesquisas “compreendem a Internet como espaço onde a cultura é permanentemente criada e recriada e os valores, sentido, conhecimento, narrativas e representações são resignificados pela interação dos atores em rede.”. Assim, as pesquisas do Observatório buscam compreender e identificar o modo com que os atores adquirem novos hábitos, narrativas e o modo com que se apropriam das TIC’S.
Por fim, em conclusão autores retomam a importância e o trabalho desenvolvido pelo NAP EF/USP ao longo dos anos e a forma com que diversas vezes esteve na vanguarda das pesquisas dos assuntos e finalizam citando o desafio imposto ao NAP EF/USP e a todos da área: Desvendar, interpretar e compreender esses fenômenos de criação de novas lógicas e semânticas na virtualidade da sociedade em rede, no momento em que surgem e se desenvolvem.
Bibliografia:
PASSARELLI, B. Do Mundaneum à WEB Semântica: discussão sobre a revolução nos conceitos de autor e autoridade das fontes de informação.Revista de Ciência da Informação, v.9, n.5, out. 2008.
JUNQUEIRA, A. H.; PASSSARELLI, Brasilina. A Escola do Futuro (USP) na construção da cibercultura no Brasil: interfaces, impactos, reflexões. LOGOS, vol.34, n.1, 2011.