Aula 09/05 - Considerações sobre o artigo "Bases de dados no Brasil: um potencial inexplorado"
Postagem realizada em: 12/07/2022 às 18:24:04
Autor: Olívia Campos
A aula do dia 09 de maio foi dedicada à primeira apresentação do ciclo de seminários, cujo tema foi “Bases de dados referenciais, catalográficas, bibliográficas e de textos completos”. Uma das referências utilizadas pelas colegas nesta apresentação panorâmica sobre bases de dados foi um artigo, de 1989, igualmente panorâmico do bibliotecário Murilo Bastos da Cunha, intitulado Bases de dados no Brasil: um potencial inexplorado.
Inicialmente, tentamos encontrar uma referência abrangente e atualizada sobre a temática das bases de dados, mas, não fomos bem-sucedidos, inclusive em bases especializadas em CI, área para a qual as bases são também objeto de trabalho e estudo. Chegamos a duas “conclusões”. A primeira, inclusive inspirada na “linha do tempo das bases de dados” apresentada durante o seminário, é a de que provavelmente não seja mais possível elaborar um trabalho definitivo, quanto mais um artigo, sobre as bases de dados, e sim, estudos comparativos. A segunda, portanto, foi ler e dialogar com artigo de Cunha.
Da leitura, a primeira “descoberta” foi a de que, se uma das pioneiras foi a base de dados numéricos criada em 1951 pelo Bureau do Censo nos Estados Unidos, o fator que realmente provocou a explosão das bases de dados foi a sua utilização por parte dos serviços de indexação e análise bibliográfica - ou seja, pelos profissionais da nossa área - e não de serviços estatísticos, como imaginávamos.
O texto traz definições que julgamos excelentes, sobretudo porque conversam com o movimento da disciplina de recursos informacionais, das fontes de informação às bases de dados:
BASES DE DADOS REFERENCIAIS
São aqueles que contêm referências ou informações secundárias que identificam as várias fontes primárias. Estas bases não dão a resposta completa a uma determinada pergunta, mas informam aonde o usuário pode ir para obtê-la. Elas são tipicamente de natureza bibliográfica ou de diretórios (p. 46, itálicos nossos).
BASES DE DADOS DE FONTES
São aquelas que contêm a informação completa (ou dados primários), as quais não requerem do usuário ir a outras fontes para obter respostas. Elas são de quatro tipos básicos: numéricas, texto completo, dicionário e gráficas (p. 46, itálico nosso).
Um dos aspectos atualmente ultrapassados do artigo, todavia interessante, é a figura do “recuperador”, usuário intermediário – entre o usuário final e as informações da base –cujas competências, para o autor, deveriam incluir conhecimento de inglês, eficiência para não desperdiçar recursos da instituição ou do usuário, destreza em datilografar e, aqui se situa a polêmica apontada, possuir conhecimento do assunto a ser recuperado ou graduação/especialização em biblioteconomia. Os salários do recuperador integram os custos com a mão de obra, um dos componentes dos custos do acesso em linha das bases, os quais, inclusive, estão todos obsoletos.
Segundo Cunha, nos países industrializados - e que se mostrou válido para o Brasil - as primeiras bases de dados eram de assuntos relativos à ciência e tecnologia e aos poucos foram sendo introduzidas as ciências sociais. E ainda, a montagem inicial de bases de dados, e principalmente de bancos de dados, envolve grandes recursos financeiros. Se, no contexto internacional, tiveram suas criações possibilitadas por recursos governamentais – os exemplos do artigo são do DIALOG e do ORBIT, implementados para armazenar e recuperar informações da NASA e do Departamento de Defesa dos EUA, respectivamente - no caso brasileiro, o setor privado tem tido pouco auxílio por parte do governo.
Conforme o texto, das 390 bases identificadas em 1986 pela Secretaria Especial de Informática, 79 eram produzidas por entidades públicas, e simultaneamente se verificava que muitas bases de dados produzidas por órgãos governamentais eram de acesso restrito, dificultando o acesso ao público em geral e contrariando o direito de cada brasileiro ao conhecimento universal e às informações de interesse público produzidas pelo Estado. O autor ainda chama atenção para a deficiência das instituições públicas no uso de técnicas modernas de marketing para difusão de seus produtos e serviços, o que poderia impactar ainda mais a subutilização dos bancos de dados a elas vinculados.
Parece-nos que de 1989 para os dias de hoje, justamente com a abertura democrática e a transição para o modelo gerencial de administração pública, no qual o foco é o cidadão e a transparência é um dos princípios, envolvendo a abertura de dados com vistas, entre outras, à prestação de contas, um dos problemas apontados por Cunha não mais persiste. Neste movimento de abertura, existem recomendações no sentido de padronizar a estrutura das bases de dados e mesmo dos sites do governo federal e órgãos relacionados.
Para finalizar, se o autor defende a ampliação de capacitação em nível universitário, já apontando para uma defasagem em relação a países como os EUA, cujas escolas de primeiro grau já estavam incluindo em suas disciplinas o acesso a banco de dados, parece-nos imperativo em tempos de mudança de paradigma cognitivo o desenvolvimento de literacia digital e transliteracias,
Referências
CUNHA, Murilo Bastos da. Bases de dados no Brasil: um potencial inexplorado. In: CUNHA, Murilo Bastos da. Revista Ciência da Informação, Brasília, v. 18, n.1, p. 45-57, jan./jun. 1989. Disponível em: http://revista.ibict.br/ciinf/article/view/322. Acesso em: 13 abr. 2020.